sexta-feira, novembro 6

@fbattaglin tem texto novo no blog.



Tem duas coisas nas quais eu reparo mais do que em outras: mapas e o uso da língua portuguesa. Por exemplo, não gostei da frase aí de cima. Pode parecer ridículo, mas se um mapa geopolítico da Alemanha democrática pós-reunificação ou uma mesóclise quase me levam ao orgasmo, o problema é meu.

Pois bem, vamos à Nossa Língua. Acho interessante a variedade e a riqueza das frases de MSN, Twitter, Orkut, Facebook ou de qualquer outra desculpa tecnológica para matar trabalho.

Além de excessivas abreviações e erros ortográficos, não existem muitas convenções ou regras no que tange à construção dos períodos que são expostos a milhares de pessoas (se você é pop) ou àqueles seus 3 seguidores (loser) nesse mundo sem leis.

Uma das coisas que me intrigam é o fato de começar a ler uma frase sem saber se ela foi escrita em primeira ou terceira pessoa. Explico: “@marialuiza tá muito quente hoje!” E aí, é a Maria Luiza fazendo considerações exclamativas sobre o tempo ou a garota está num período de tensão sexual? Febre, talvez?

A ambigüidade é incitada pela pergunta feita na caixa de texto destinada à escrita da frase (o que você está fazendo?) somada ao modo como é visualizado o que o usuário escreveu. Muitas vezes, não há espaço entre o nome da pessoa e a frase por ela escrita.

Outro episódio: abro o MSN e deparo-me com um “Ighor – vendo jogo”. Pensei que, finalmente, ia encontrar aquela edição de luxo limitada do War que procurava há séculos. Mas, não. Era apenas um tricolor desesperado vendo seu time tentar uma vaga na semifinal da Sul-americana.

Eu critico, mas sei que a vida é assim. Nunca sabemos ao certo o que encontraremos. Aliás, quase nunca. Se o Pelé usasse o Twitter, com certeza usaria só a terceira pessoa. Ou seria o Edson?

quarta-feira, novembro 4

Fé demais


stillness
Upload feito originalmente por ღĴęNňζ™




Brisa ideal das costas largas
platônico vento alcança?
Vento e música: ato puro
sexo alcança?

Mergulha, procura, Epicuro.
O lado de cá cansa.

quinta-feira, outubro 29

O passado


CHUBBY SWINGER KID
Upload feito originalmente por BIGAWK



A partir de hoje, vou procurar ilustrar os textos com fotos bacanas que encontro nas minhas andanças pelo Flickr. Deixo claro que os autores estão indicados logo abaixo das fotos/desenhos/ilustrações. Não deixa de ser um incentivo aos direitos autorais num mundo virtual quase sem leis, onde qualquer texto é do Jabor, do Veríssimo ou do Quintana e o trabalho de fotógrafos e artistas é ignorado.

Para inaugurar, um desenho genial que me faz voltar à minha infância robusta e corada. Swing, chubby boy!

segunda-feira, outubro 19

Realidades da economia e da política explicadas por fábulas(?) virtuais

Se o mercado de virtual estate americano entrasse em crise hoje, o Brasil só sentiria uma “marolinha”. Mesmo após a quebra do Facebook Brothers, o país se recuperaria muito mais rapidamente do que seus concorrentes. Afinal, brasileiro é atrasado e só usa Orkut.

O pré-sal é o Orkut do Brasil. Enquanto outros países tuítam novas formas de energia renovável, o governo Lula resolve mandar scrap.

Obama fez uma bruta campanha usando o twitter como ferramenta de comunicação direta com os eleitores. Alguns meses depois, a Petrobras monta um blog como mecanismo de intimidação para dificultar o trabalho da imprensa.

E ainda tem gente pessimista que diz que o Brasil será eternamente o país do futuro.

terça-feira, outubro 6

O último nostálgico

Enquanto na fila para assistir ao enésimo filme no Festival do Rio, vejo Arnaldo Jabor saindo da sessão anterior. Surpreendo-me, menos por tietagem do que pela aparência acabada do grande e exemplar escritor-cineasta-cronista-crítico brasileiro.

Na qualidade de ex-integrante de uma comunidade de rede social dedicada a ele, senti-me na obrigação de observá-lo por alguns instantes. Elogiei mentalmente a equipe de maquiadores da Globo, que habilmente disfarça a avançada idade que Arnaldo deixa transparecer numa despretensiosa sessão de cinema de segunda-feira. Aquelas marcas de expressão trouxeram-me a explicação para a partícula “ex” anexada ao substantivo “integrante”, na frase que inicia este parágrafo. De uns tempos para cá, as crônicas de Jabor me vinham fatigando. As doses exacerbadas de sua visão nostálgica pulverizaram de tédio não só seus textos, mas também minha admiração por ele, iniciada há alguns anos, quando minha primeira sogra presenteou-me com um de seus livros.

Sempre fui um crítico contumaz da nostalgia. Ouvia desconfiado, desde cedo, os tios contando vantagens de sua mocidade. “Eu, na sua idade, não estava na barra da saia de mamãe pedindo doce. Estava jogando bola, correndo, era o melhor lateral-direito do bairro”. Reprovava os amigos bêbados de meu pai que diziam “pegar as mais gatas da faculdade, ir a todas as festas e ainda tirar notas boas”. Não dava ouvidos nem ao meu avô, que afirmava que “no governo Vargas, isso não acontecia”.

A nostalgia é a porção otimista de um retrovisor multifocal que aumenta ou diminui o que passou, dependendo do ângulo pelo qual é olhado.

Sempre acreditei – ou tentei acreditar – que o melhor momento de nossas vidas é agora. Meu escapismo romântico me leva aos sonhos, não ao passado. Quem sabe, um pouco ao futuro.

Enquanto observava Jabor indo embora, notando seus cabelos para lá de grisalhos e seu modo já ineficiente de caminhar, imaginei-me daqui a quarenta ou cinqüenta anos.

Ao ler os velozes grunhidos dos usuários da mais nova ferramenta de comunicação e informação, vagos, rasos e fugazes, eu olharia para o espelho, para minhas rugas, buscaria um ângulo mais favorável e diria: “não se fazem mais escritores-cineastas-cronistas-críticos como os de antigamente”.

quinta-feira, outubro 1

ENEM? Nem.

O que o Exame Nacional do Ensino Médio e a Gillette têm em comum? Aparentemente, diria alguém desavisado, nada. Porém, ao se analisar minuciosamente os acontecimentos dos últimos meses, pode-se perceber que há grande conexão.

Em agosto deste ano, a Gillette lançou na internet um simulado do novo ENEM (www.mach3apostaemvc.com.br), para que os estudantes pudessem testar seus conhecimentos e se preparar para a prova, que ocorreria nos dias 3 e 4 de outubro. À primeira vista, a ação, comumente praticada apenas por empresas diretamente ligadas à educação, como escolas, cursos pré-vestibular e veículos de comunicação direcionados a estudantes, não fazia muito sentido. Entretanto, um olhar mais atento às práticas contemporâneas de marketing revela uma excelente estratégia por parte da marca de lâminas de barbear. A intenção da Gillette era trabalhar sua imagem junto a um público jovem que poderia comprar seus produtos durante um longo período. Afinal, cerca de 50% dos inscritos na prova passará o resto da vida fazendo a barba, enquanto a outra metade poderá utilizar os produtos em pernas, axilas e outras partes do corpo que julgue necessário.

A idéia de fidelizar uma grande parcela da sociedade, no entanto, não foi apenas da Gillette. Na verdade, esta apenas aproveitou-se de uma tática populista e eleitoreira engenhada pelo governo federal e pelo PT, aplicada pelo MEC e sua cabeça pensante, na figura do ministro Fernando Haddad (que, dizem, pleitearia um cargo executivo ou legislativo no ano que vem). A instituição resolveu, no primeiro semestre de 2009, mudar o sistema de seleção de candidatos a vagas nas universidades brasileiras, sob o pretexto de facilitar a vida dos estudantes que, segundo as justificativas do ministério, gastavam tempo e dinheiro excessivos para poder participar dos processos seletivos de várias universidades por todo o país. A proposta era unificar os vestibulares em uma só prova, que foi pintada como a solução para os problemas dos jovens brasileiros – principalmente os de classe mais baixa: o todo-poderoso novo ENEM.

A detecção dos problemas foi eficaz. A proposta de intervenção seria eficiente, caso não falhasse em vários aspectos, dos quais enumeram-se apenas alguns a seguir:

1 – planejamento e respeito aos trâmites de adaptação dos alunos e das instituições de ensino médio foram ignorados;

2 – várias das universidades públicas não aderiram à unificação dos processos seletivos;

3 – a maioria das universidades que aderiram utilizará o ENEM apenas como parte de seu processo de seleção, mantendo a segunda fase do processo no modelo tradicional e, em alguns casos, mantendo também sua primeira fase;

4 – o candidato teve de pagar, além da inscrição para o ENEM, taxas de inscrição para as outras provas que compõem os processos seletivos citados no item 3;

5 – o novo ENEM é composto por 180 questões de múltipla escolha, mais uma redação, a serem completados em 10 horas de prova, modelo que, ao invés de privilegiar o conhecimento, dá mais importância à resistência física do candidato;

6 – questões da prova vazaram dois dias antes de sua aplicação, quebrando a confidencialidade e, juntamente com esta, a credibilidade do processo e também da instituição que o idealizou.

Devido ao derradeiro imbróglio com o sigilo das questões, o MEC anunciou, em 01/10/2009, o adiamento da prova por pelo menos 45 dias, o que certamente prejudicará o calendário das universidades que dependem dela para a seleção de candidatos. O resultado é uma grande interrogação pairando sobre a cabeça dos 4,1 milhões de estudantes inscritos, que já não sabem quando e como serão realizadas as etapas mais importantes da atual fase de suas vidas.

A estratégia do governo, de conquistar jovens eleitores que, teoricamente, teriam seu ingresso em instituições de ensino superior feito de forma mais justa, parece ter saído pela culatra. A Gillette pode até ter sucesso em conquistar jovens clientes. Já o governo, cuja intenção era fazer barba, cabelo e bigode com uma fatia significativa de jovens eleitores, termina por cravar uma lâmina na própria garganta.

É o Brasil.

quinta-feira, março 5

De novo?

A imagem, para não dizer linda, era simpaticíssima. Eu caminhava pelo Arpoador, aproveitando minha última semana de ócio no Rio de Janeiro, quando vi, na areia, um garoto de seus 13 anos, solitário, brincando sorridente com sua bola. A cena levou-me de volta à infância, quando, embalado por Romário e Bebeto em sua jornada rumo ao tetra, eu mirava a pelota no ângulo e soltava meu petardo de direita. Se realmente houvesse alguém defendendo a meta, ou mesmo um zagueiro que eu brilhante e imaginariamente driblava, seria um gol de placa.

O garotinho do Arpoador era uma alegria só. No seu Maracanã de areia, seguia ávido em direção às traves de garrafas pet. Ele próprio era o atacante, a torcida e o narrador. O sorriso e o brilho no olhar revelavam o júbilo sonhado por todo brasileiro: o gol no estádio lotado, narrado com empolgação e emoção por uma lenda do jornalismo esportivo. Na comemoração, corria em direção ao mar – neste caso, literal – de torcedores que o exaltavam como ídolo do time do coração.

O saudosismo, via de regra, nos leva a dizer que não existem mais craques, torcidas e tampouco narradores como os de antigamente. Porém, não me enquadro nessa categoria de saudosistas pessimistas, daqueles que não conseguem encontrar beleza em banda nova, carnaval atual ou carro do ano. Acho que o Keirrison tem potencial para ser craque, a torcida do Flamengo anda cada vez mais criativa e a nova safra dos narradores esportivos está muito bem representada por grandes nomes como... er... hum... Luís Roberto, talvez.

“... ele se orgulha de praticar um estilo novo de narração, pontilhada por informações reunidas em horas de pesquisa, e menos baseado na voz potente, como os telespectadores se acostumaram a ouvir desde os “speakers” antediluvianos. Na véspera de cada transmissão, Luís Roberto senta-se em frente ao computador e só sai após acumular um calhamaço de dados sobre times, juízes, jogadores, estádios e competições. O hábito fez dele um arquivo ambulante, que muitas vezes esclarece dúvidas de companheiros no ar, em tempo real.” Do site da ABERT.

Fiquei surpreso quando ontem, durante a transmissão de Flamengo x Ivinhema pela Rede Globo, o excelente narrador e pesquisador supracitado cometeu uma pequena gafe: disse que o timaço que enfrentava o Flamengo (o jogo terminou 5x0 para o rubro-negro) havia disputado o campeonato mato-grossense. Cerca de dez minutos depois, muito provavelmente alertado pelo ponto eletrônico (e, mais provável ainda, pela chuva de e-mails de sul-mato-grossenses exaltados), sutilmente frisou que o Ivinhema era o campeão do Mato Grosso do Sul.

Um pouco desapontado com o episódio e a falta de preparo geográfico do jornalista, pensei: “se eles têm o ponto eletrônico, nós temos o controle remoto”. Apanhei o dito-cujo e fui direto para a Band.

Corinthians x Itumbiara, também pela Copa do Brasil. Senti um certo alívio ao ouvir a voz de um narrador mais experiente e calejado, o famigerado Luciano do Valle. E por falar em experiência, além da possível estréia de Ronaldo pelo Timão, a partida contava ainda, no que tangia à velharia, com mais dois exemplares da velha-guarda brasileira: Túlio Maravilha e Denílson estavam em campo pelo Itumbiara. Pinta a bolinha na tela. Luciano anuncia: “Tem gol! Será que é na Libertadores? Será que é na Copa do Brasil?” Um calor, misturado ao medo, tomou conta do meu corpo, já prevendo mais uma gafe na minha noite de quarta-feira. E não deu outra. “Olha o Flamengo! Fez um a zero no Ivinhema, do Mato Grosso”. Pelo menos não foram necessários dez minutos e nem ponto eletrônico para a correção. Imediatamente, o comentarista e ex-jogador Neto (que não é jornalista), corrigiu o locutor: “Mato Grosso do SUL”.

Confesso que o fato de eu ser nascido no Mato Grosso do Sul foi capital na resolução de escrever este texto, mas a questão aqui é mais que xenófoba, regionalista, bairrista, o que for. A questão é a falta de informação. Ou, por incrível que pareça, o excesso dela.

A disponibilidade de informação e a facilidade de obtê-la tornaram-se tão grandes que, hoje em dia, ninguém mais sabe de cor e salteado os planetas do sistema solar, a tabuada ou as capitais dos estados brasileiros. Por quê? Fácil. É uma conjunção de três fatores que, dependendo do modo como forem utilizados, podem servir para a informação ou a desinformação. São eles: Google, CTRL+C e CTRL+V.

Por saber que, a qualquer hora do dia e da noite, é só mexer no mouse para tirar seu computador do modo “economia de energia”, acessar o Google (isso se já não houver a barra do Google em seu navegador) para se obter a informação que se deseja, as pessoas não têm mais a obrigação de decorar “Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão”, como antes. (Eu sou da época em que Plutão ainda era planeta.)

O problema surge quando você não tem tempo de consultar a internet antes de falar, como no caso de Luís Roberto e Luciano do Valle. Ninguém tem a obrigação de saber que o Ivinhema é um time do Mato Grosso do Sul, mas deveriam todos os brasileiros saber que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são dois estados diferentes (já faz 30 anos!) e que não se usa o mesmo adjetivo gentílico para se referir a algo ou alguém de origem de um estado ou do outro.

Morei quase 4 anos em São Paulo, agora moro no Rio. Posso contar nos dedos de uma das mãos quantas vezes ouvi alguém falar Mato Grosso do Sul, ao invés de Mato Grosso. Na verdade, creio que poderia até contar nos dedos da mão esquerda do Lula. A propósito, será que o nosso presidente sabe que Campo Grande fica no Mato Grosso do Sul?

Podem argumentar que o Mato Grosso do Sul deveria ter adotado outro nome, para evitar confusão. Concordo que ajudaria, mas enfatizo que o problema não está só no nome do meu estado, e sim na preguiça – e, às vezes, ignorância - de muitos indivíduos. Só para constar, durante uma narração em setembro de 2005, Luís Roberto informou que “o Internacional ganhou do Rosario Central em Rosario Central”. Vale esclarecer que o nome da cidade argentina é apenas Rosario. Já Luciano do Valle, na mesma partida acima relatada, chamou por mais de uma vez a equipe adversária do Corinthians de Itumbiaria.

Para aqueles que também se indignam com gafes e desrespeitos desse cunho, disponibilizarei um modelo de e-mail a ser enviado quando da ocorrência de mais uma(s) dessa(s) mancada(s) em rede nacional:

“Quando será que os digníssimos e gabaritados profissionais da ________________ (nome da emissora) dar-se-ão conta de que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são estados diferentes desde 1979? Estou profundamente desolado com o crasso erro cometido por __________________ (nome do narrador, comentarista, repórter, etc.) durante o ____________________ (nome do programa ou partida), em ___/___/______ (data).”

Autorizo todo e qualquer cidadão a utilizar o modelo acima. Espero ter auxiliado aos que partilham de minha opinião. Afinal, pra que redigir um e-mail, se podemos usar o CTRL+C e CTRL+V?

quinta-feira, fevereiro 19

Internet Banking CAIXA - Reclamação 1283141

Quatro dias após efetuar uma reclamação sobre o Internet Banking Caixa junto à Ouvidoria da instituição [vide post anterior], recebo, via e-mail, a tão esperada resposta contendo – ou, pelo menos, assim esperava eu – a solução para meu problema.

Publico aqui, na íntegra, a reprodução da carta, em negrito. Minhas respostas (em itálico), infelizmente ficam no âmbito da imaginação. A instituição referida não se digna a responder por telefone uma reclamação realizada pelo mesmo meio. Evita, assim, mais importunações causadas por clientes idiotas que acreditam valer de algo criticar construtiva e educadamente os serviços deficientes pagos através de tarifas exorbitantes.

Critico a instituição e dirijo-me a ela como um todo, pois o e-mail não foi sequer assinado por uma pessoa que arriscasse seu nome ao representar o banco.

Aí vai. Deleitem-se.


Prezado Sr. Fabiano
Chegou ao nosso conhecimento a sua reclamação sobre o Internet Banking Caixa, mais especificamente sobre a utilização de navegadores.

Correto. Go ahead.

Gostaríamos de pedir desculpas pelos transtornos que porventura tenham sido gerados e esclarecer que o Internet Banking aceita qualquer browser que tenha como sistema operacional Windows.

O que você quer dizer com “aceita”? Seria no sentido de “ser compatível com”? Pois isso é o que me interessa, e me parece que não foi o caso. Mas isso são águas passadas. Façamos o seguinte: eu aceito suas desculpas, o Internet Banking aceita meu Internet Explorer 7. Fechado?.

Em alguns (como o Chrome, por exemplo) poderá ocorrer um pequeno problema de configuração, mas não impede sua utilização.

Não é o meu caso. Eu uso o Windows e o meu navegador é o Internet Explorer 7.

Quanto ao Firefox 3, o problema não está no Internet Banking e sim no registro ICP no Brasil da empresa desenvolvedora do browser.

Será que eu já mencionei que uso o Internet Explorer 7?

Em caso de dúvidas ou problemas no momento do cadastramento, por favor, entre em contato com a nossa central de atendimento pelo 0800 726 0104, que atende 24 horas por dia e todos os dias da semana, e solicite auxílio online para realizar o cadastramento, informando sistema operacional, navegador e versão.

Poxa... lembro desse número de algum lugar... Ah, já sei! Não foi o número para o qual liguei logo que tive problemas no cadastramento?

Caso não saiba, um de nossos atendentes o auxiliará na obtenção dessas informações.

Sim, a atendente me ajudou muito! Pediu para clicar em Ajuda>Sobre o Internet Explorer para verificar a versão do navegador. Segui as instruções e informei que usava a versão 7.

Gostaríamos de esclarecer que o navegador Internet Explorer 8 da Microsoft encontra-se em sua versão beta, ou seja, ainda passando por testes e podendo ser modificada a qualquer momento.

[Crianças, fechem os olhos.] PUTA QUE PARIU! Quantas vezes vou ter de repetir que a minha versão é a 7? S-E-T-E. Quer em algarismos romanos? VII.

A CAIXA, por se tratar de uma empresa grande e em respeito aos seus clientes, utiliza em seus serviços os navegadores mais utilizados no mundo e que já estejam homologados.

Por acaso vocês já ouviram falar no Internet Explorer 7? Será que ele já foi homologado?

Enquanto a Microsoft não oficializar a versão do IE 8, não poderemos realizar testes e adaptações para sua utilização, por motivos de segurança, para resguardar quaisquer imprevistos que possam ocorrer com tais ferramentas.

Tá, mas e o Internet Explorer 7?

Tenha certeza de que não estamos insensíveis às manifestações legítimas dos usuários de nossos serviços e de que estamos firmemente adotando as ações que estão ao nosso alcance.

Tenho certeza absoluta. Afinal, isso prova que minha reclamação chegou até você, Sra. Gerência, que, com a maior boa-vontade do mundo, analisou A FUNDO meu problema e FORMULOU essa resposta deveras esclarecedora.

Esperamos contar sempre com seu auxílio para melhorar nossos serviços.

Já que esperam, aqui vai mais um: quando receberem alguma reclamação, leiam atentamente o que o operador de telemarketing de vossa Ouvidoria descreveu. Após copiar e colar uma carta-resposta genérica, adaptem as palavras ao objeto da manifestação legítima do estimadíssimo usuário de vossos serviços. Trocar um “8” por um ‘”7” antes de clicar em “Enviar” faz muita diferença para quem recebe o e-mail.

Muito obrigada

De nada, é sempre uma honra receber e-mails ao invés de telefonemas. Assim vos poupamos os ouvidos, pois não podemos contestar todas as vossas afirmações de imediato.

Gerência Nacional de Internet

Sra. Gerência, que nome raro a senhora tem! É de origem espanhola? Sinto que conversaremos muito daqui em diante. Posso te chamar de Gê?

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Caixa, tenho orgulho de ser teu cliente. Representas muito bem o nosso país.

quinta-feira, fevereiro 12

Ah, se meu blog tivesse alguns milhares de leitores...

Quando você vai ao banco, geralmente estão disponíveis dois ou três caixas “humanos” para atender uma fila gigantesca de pessoas que dão aquela escapadinha do trabalho na hora do almoço, correm para o banco e tentam resolver os problemas de contas atrasadas, recebimento de FGTS e tudo mais que os bancos oferecem a uma tarifa simbólica. Certo?

O resultado da corridinha até o banco é, indubitavelmente, o suor. Aí você chega ao seu destino, vê aquela agência lotada e fedida, suspira, olha para o relógio e calcula o tamanho da bronca que vai levar do chefe pelos minutinhos de atraso. Isso, sem contar os gritos do seu estômago que, quase grudado, implora por alguma migalha para digerir. Infelizmente, dado o tamanho da fila, ele terá que se contentar com um cafezinho rápido na volta para o trabalho.

Chega a mocinha de colete azul estampado com a linda frase “Posso ajudar?” e vai pegando a conta da sua mão para verificar a data de vencimento. A sabichona dispara:

- O Sr. pode pagar essa fatura no caixa eletrônico.

Mas ela não sabe que, além de pagar aquela fatura, que ainda não venceu, você ainda precisa fazer uma transferência entre contas do mesmo banco cujo valor excede o limite diário das transações nos terminais eletrônicos. E sim, eu disse entre contas do mesmo banco. “É por motivo de segurança”, alegam.

Você pacientemente explica para a garota, que masca um chiclete sabor tutti-frutti (é fácil adivinhar o sabor, pois ela o faz ruidosamente e de boca aberta), que infelizmente precisa ir até a boca do caixa, por causa do limite.
Aí vem o interrogatório:

- Mas qual é o valor da transferência? É DOC? É TED? O Sr. já tentou no caixa eletrônico?

- Minha querida, olha bem pra mim. Você acha que eu me sujeitaria a esse martírio se eu não tivesse absoluta e infeliz certeza de que eu PRECISO ir à boca do caixa? Bonitinha, vai ajudar a moça aqui de trás, vai.

Essa é a atual política do sistema bancário: jogar todo mundo pras máquinas. Vamos cortar gastos! Dão menos despesas, não engravidam, não faltam ao serviço... Opa, não faltam ao serviço? E quando cinco dos seis terminais de auto-atendimento te olham sorrindo sarcasticamente, dizendo “Equipamento em manutenção” e a fila acaba ficando do tamanho daquela lá de dentro?

Os bancos investem milhões de reais, todos os meses, em propaganda. Um banco adapta seu logotipo para ficar parecido com uma arroba. Outro, diz que estará com você onde você for. São apenas dois exemplos do esforço de comunicação que visa afastar ainda mais os clientes da boca do caixa e das agências. USE O INTERNET BANKING. Daqui a pouco, vão até fazer propaganda subliminar nos cinemas.

Pra mim, isso é ótimo. Pertenço à geração que tem internet em casa desde o início da puberdade. Aprendi a resolver problemas – dos financeiros aos sexuais – grudado num computador. Evolui junto a eles. Comecei num trambolhístico 386, hoje estou num laptop de tela ultra-fina de alta definição. Eu evoluí. Os computadores, idem. E os bancos?

O problema é que, pelo menos o meu banco (e, agora, cito o nome – Caixa Econômica Federal) parece não conseguir acompanhar o rápido progresso da tecnologia. Há um tempo atrás, eu não conseguia acessar o Internet Banking porque usava o Windows Vista. Até relevei, pois odeio o Vista. Agora, não consigo instalar o so-called Adicional de Segurança porque a versão do meu Internet Explorer é avançada demais.

Meu professor de Marketing na pós-graduação dizia: “Nunca prometa o que você não pode entregar”. Isso valia mais que “Não cobiçar a mulher do próximo” para mim. (A intenção aqui era comparar o marketing à religião, nunca dizer que eu cometo qualquer tipo de adultério).

A meu ver, existe uma imensa falta de coerência entre a estratégia que os bancos adotam e o que eles realmente oferecem. Expulsam os clientes das agências, pintam o serviço on-line como a milagrosa solução de seus problemas, mas não conseguem adaptar um site a um navegador da MICROSOFT? Só pra constar, o Internet Explorer é o navegador mais utilizado em todo o mundo.

Pra onde vai toda a economia que fazem, ao reduzir o número de funcionários nas agências? Será que alguém, além de mim, pensou em “deveria ser investida em Tecnologia da Informação”?

Depois de um bom tempo perdido tentando instalar o tal Adicional de Segurança; depois de checar uma a uma as opções na tela de “possíveis causas de erro” para a qual fui direcionado; depois de verificar que eles reconhecem a incompatibilidade com o IE7; depois de tentar fazer o download manual do programa no link oferecido por eles e descobrir que o link não funcionava (também), vi uma luz no fim do túnel: o super Help Desk gratuito.

Liguei para o 0800 e, depois do simpático menu eletrônico (mais uma máquina no meu dia), consigo falar com uma mulher que tinha mais voz de máquina que a própria máquina. Era um robô. Pelo menos não assassinava o português com o típico gerundismo da categoria. Após minha detalhada informação, a ciborgue, com sua entonação monótona (e aqui o adjetivo vem, realmente, de “um só tom”), informou que realmente não havia o que fazer neste caso, e que eu “teria que entrar em contato conosco num outro momento para tentar solucionar o problema”. Que momento? Quando? Tem um prazo? É um problema temporário? “Sinto muito, senhor. O senhor teria que entrar em contato conosco num outro momento para tentar solucionar o problema”, repetiu, com as mesmíssimas palavras.

Conclusão: eles sabem que existe um problema, não dizem se estão trabalhando para solucioná-lo e, muito menos, quando haverá uma solução.

Enfezei. E agora, quem poderá me defender? Quero reclamar, quero expressar minha insatisfação enquanto cidadão e cliente de uma instituição federal pertencente à minha pátria amada, Brasil! Pensei: a Ouvidoria. Encontrei o telefone (também gratuito) no próprio site da Caixa e botei os dedos para funcionar.

Outra maquininha me atendeu e me forneceu as opções. A Naty (já estou tão íntimo delas que resolvi dar nomes pra ficar mais agradável) começou: “Para sugestões, elogios ou novas reclamações, digite 2”. Continuou: “Para denúncias, digite 3”. Quando ouvi a quarta opção, juro que pensei em desligar. “Para reclamações não resolvidas, digite 4”. O quê? Existe uma opção exclusiva para reclamações não resolvidas? Pô, a Naty tá de brincadeira.

Bufando, apertei o 2. O botão quase emperrou. Já fui esperando mais um atendente ciborgue na linha, mas me surpreendi mais uma vez. O rapaz que me atendeu tinha voz de humano. E, vejam só, não era qualquer voz de um reles humano mortal. A voz do cara era igual à voz dele, o Rei, o atleta do século: Pelé. Foi um susto. Se um dia você estiver sofrendo de soluços, ligue imediatamente para a Ouvidoria da Caixa.

Agora, alguém pode me responder quem é o cabeça-de-bagre que contrata, para trabalhar em telemarketing, um sujeito que fala com um ovo na boca? Vai entender.

Depois de vários “Hã?”, “Como?” e “Não entendi”, consegui responder às perguntas do Edson (nome fictício, para preservar a identidade do coitado) e registrei minha ocorrência, que consta dos arquivos da Ouvidoria sob o número de protocolo 1283141, que, segundo o Arantes, terá resposta até o dia 19/02/2009. Podem verificar, isso tudo é verdade.

Com a vaga sensação de que, no dia 20 de fevereiro, terei de ligar novamente e apertar o botão 4, desliguei o telefone e sentei-me ao meu laptop de última geração, que ainda funciona com o Microsoft Word, e pus-me a escrever este desabafo, imaginando que, se eu tivesse uma coluna n’O Globo ou na Folha de São Paulo, esse texto pudesse ter alguma repercussão.

Ah, se meu blog tivesse alguns milhares de leitores... Ou se, pelo menos, alguém me plagiasse e distribuísse esse texto por e-mail com a falsa assinatura de Jabor, Drummond de Andrade ou Veríssimo... É o tal do quarto poder.

Posso ajudar em mais alguma coisa?

O Privada Criativa agradece o seu acesso, tenha uma boa noite.

sábado, janeiro 24

Quando você pede ajuda?

Geralmente, quando você não consegue fazer algo sozinho, certo? Em condições normais de temperatura e pressão, é o que as pessoas fazem.

O que dizer, então, da recém-destituída-de-hífen “autoajuda”?

O prefixo “auto” exprime a idéia de próprio, de si mesmo. Divaguemos: se você pede ajuda a si mesmo e assim consegue resolver o seu problema, você se virou sozinho. Ou seja, não precisava de ajuda nenhuma.

No entanto, Augusto Curys e James Hunters da vida enriquecem às custas de indivíduos inseguros que precisam comprar um livro ralo – engordado à base de gramatura de papel e tamanho de fonte aumentados – que lhes diga o que eles já sabem. Não seria este um exemplo de ato de esconder a qualidade de um produto, com objetivo de lucro ilícito? Essa é uma das definições de “fraude”, segundo o UOL-Michaelis.

E a enganação não para por aí. Na edição de 23 de janeiro de 2009 do programa Olha Você, do SBT (cópia descarada do Hoje em Dia, da Record), um senhor bem vestido, sentado confortavelmente no rechonchudo sofá do estúdio, ensinava, confiante e eloquente como um pastor, a fórmula do bom-humor matinal a uma carrancuda telespectadora: “Quando acordar, antes de dar bom-dia às outras pessoas, vá até o espelho e deseje bom-dia a você mesma”. O sábio senhor que proferia as inspiradoras palavras era, nada mais, nada menos, que o grande Eduardo Shinyashiki.

Neste momento, o leitor adepto à categoria deve estar dirigindo dezenas de palavrões e ofensas a este que vos escreve: “Como é que um mané que se propõe a criticar a autoajuda não sabe nem o nome de um dos grandes gurus brasileiros? Não é Eduardo, pô! É Roberto!”

Nananinanão. Desta vez, estimado leitor, não sairá de minha boca nenhum pedido de perdão, pois estou certo. Não era o grande Roberto naquele sofá. Era Eduardo, seu irmão. Mais ou menos a Preta Gil da autoajuda: alguém que se aproveita do sucesso de um parente para tentar emplacar o seu. Sendo Roberto, ele próprio, uma fraude, Eduardo Shinyashiki inaugura uma nova categoria: a fraude juvenil. Simplificando, eu a classificaria como “fraudinha”.

Outra perguntinha: você tem um segredo? É claro que sim. Quantas pessoas sabem dele? Bem, tratando-se de um segredo, suponho que ninguém. No máximo, seu melhor amigo e seu terapeuta. Ok, vá lá, seu melhor amigo é meio fofoqueiro. Digamos que cerca de dez pessoas saibam do seu segredinho. Não é um número satisfatório, mas, até certo ponto, aceitável.

Agora, conhece algum segredo do qual 4 milhões de pessoas passem a saber em apenas dois meses? Nem uma junta de “comunicadores” composta por Leão Lobo, Sônia Abrão e Nelson Rrrrrrubens conseguiriam essa proeza. Porém, as sessões de “Autoajuda e Desenvolvimento Humano” das livrarias – virtuais ou não – mundo afora, conseguem.

O Segredo, de Rhonda Byrne (Ediouro), atingiu a marca de 4 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, apenas 2 meses após seu lançamento oficial. Lançado no Brasil em 2007, o livro está na lista de best-sellers da revista Veja há 87 semanas.

Encucado com tamanho sucesso, perguntei-me por quê tantas pessoas leem a obra-prima de Byrne. Curiosidade ou inocência? No site do Submarino, livraria virtual que vende bicicletas, telefones, sofás e até a mãe à milanesa, encontrei a resposta no comentário de um cliente que adquiriu o produto: “Muito bom. Livro que se realmente for lido com fé pode realmente mudar o rumo da sua vida” (sic).

Caro amigo, se você ler, com fé, a bula de um poderoso ansiolítico e, com mais fé ainda, mandar o frasco inteiro de comprimidos goela abaixoo, garanto que você muda o rumo da sua vida em menos de dez minutos.

A fé funciona. Basta saber no que acreditar.

Para terminar, uma dica aos interessados. Oferta imperdível no Submarino: O Segredo, de R$ 39,90 por apenas R$ 15,20.

Segredinho barato esse, né? Até perdi a vontade de saber.