quinta-feira, novembro 29

Prisão de ventre

Estou em estado provisório de ingestão e digestão.

Não se preocupe, logo logo a privada será novamente usada.

Câmbio, desligo.

quinta-feira, novembro 22

Samambeck

“Bola um lá pra nóis, brother... mas sem xaxim!”

Na terra da massa, logo logo a jardinagem vai virar moda. A molecada vai comprar adubo, regador e cia.

“Olha filho, comprei um cãozinho pra você!” “Ah mãe, quero uma plantinha.”

É, na Itália, decidiram que a maconha poderá ser vendida como planta ornamental. O Gabeira e o D2 já deram entrada na papelada junto ao Consulado Italiano. A previsão da instituição é de um aumento de 250% no número de processos de requisição de cidadania.

O governo holandês mostrou-se preocupado com a iminente queda no número de turistas aportando em Amsterdã. Afinal, seu sonho é ir pra lá por quê? Ah, ouvi dizer que os monumentos de lá são lindos. Museus, praças, tudo de primeira. E as belezas naturais então? Há-há.

Li que o Brasil é o segundo país que pior explora seu pontencial turístico. Tá aí a solução: imagina se o Lula decretasse essa lei da plantinha aqui pra nós? A Marta Suplicy ia perder o emprego. Ministério do Turismo pra quê? Eu ia investir em hotelaria. E em jardinagem. Ia relaxar e gozar.

Já imaginou? Os programas de auditório substituiriam a Mulher-Samambaia pela Mulher-Cannabis. A platéia ia ficar muito mais louca.

E o último boato que corre é que o Capitão Nascimento já está com as passagens na mão para dar início à Operação Bota. “Porca la pipa, maconheiro figlio di una putana!”

A vantagem é que a conta do Papa tá ali pertinho.

*Texto em homenagem aos que não matavam aula para jogar Street Fighter. Preferiam outro passatempo.

terça-feira, novembro 20

Street Fighter

Quem já teve infância e um mínimo de experiências amorosas sabe que a vida é um fliperama.

Após o fim de um relacionamento, dá aquela puta vontade de voltar. Aparece estampado na sua tela: Continue? Insert Coin. Mas você luta pra não ceder e tenta deixar o jogo acabar.

A saudade chega e te sussurra: insert coin! 5 seconds...

Aí vem a solidão e grita: insert coin! 4 seconds...

A incerteza te dá um direto de esquerda e manda: insert coin! 3 seconds...

Uma voadora da abstinência e a ordem: insert coin! 2 seconds...

O sentimento de posse te estrangula, te dá um pilão rodado e diz: insert the fuckin’ coin, muthafucka! 1 second...

Resistindo ao adversário, você dá um frente/baixo/frente + soco e solta um horyuken em tudo isso, e consegue se segurar. Afinal, você é o todo-poderoso Ken!

O grande lance, quando se termina um namoro, não é inserir a ficha, mas deixá-la cair. E quando cai a ficha, você entende que o fim de uma luta não é o fim do jogo. É só ter calma, pois logo logo... Here comes a new challenger!

O problema é que, pra Chun Li, também.

Game over.

sexta-feira, novembro 16

Adeus

Foi foda fechar a porta do elevador.

Não sei se o chão, que meus pés descalços sentiam, ou se o ar, que quem sentia era o coração, era o mais gelado.

Mas, como dizem, fecham-se umas, abrem-se outras.

Cá estou mais uma vez. Livre, solto, porém pesado. Por não conseguir ceder às não tão grandes expectativas dela, que só queria falar um pouco ao telefone e ver suas fotos à minha parede. Só queria um pouco de ciúmes e uma mensagem de saudades antes de dormir.

Isso não é implicância, é lugar-comum.

E se já não consigo fazer nosso lugar assim tão comum, é hora – infelizmente – de fechar a porta do elevador.

Ela vai ao shopping para não chorar. Eu venho aqui te confidenciar, Microsoft Word, mais uma vez, o que a ninguém tenho coragem de dizer: que estou triste.

E choro.

terça-feira, novembro 13

Toca Raul

O maior incômodo para quem toca algum instrumento musical (leia-se, em 90% dos casos, violão) são os pedidos que interrompem o valioso repertório do caboclo.

“Toca aquela que fala de amor”, ou “você sabe aquela... daquele cantor... que toca na novela?” são algumas das encomendas comuns em qualquer barzinho ou rodinha de violão despretensiosa no aniversário da Isa, da Ju ou da Nati. “Pô, ninguém trouxe CD bom? Toca aí então, César”.

Agora que comecei a divulgar o blog, começaram os pedidos. Ontem, um amigo sugeriu um texto sobre as coisas da infância de que sentimos saudades. Das coisas das quais reclamávamos outrora e que hoje daríamos tudo para ter de novo.

Gostei da idéia, mas resolvi dar uma de cantor estrelinha e escrever um texto camuflado. Afinal, eles sempre reclamam do pedido, dizem que vão “ficar devendo essa”, afinam o violão e tocam uma parecida. Não dão o braço a torcer, mas também não querem desagradar o cliente ou perder a ajuda do amigo na hora do refrão.

Pois, quando fazia uma análise saudosa e retrospectiva de minha não tão longínqua infância, reparei que me recordo apenas de momentos no mínimo estranhos: eu no colo do Hélio na chácara do meu avô, durante uma reunião política do Lúdio Coelho; eu a bordo de um táxi em Piracicaba, rindo do sotaque do motorista ao pronunciar interioranamente a palavra padarrrria; eu contando uma piada-pegadinha para o Doutor Luiz Antônio, chefe do meu pai; eu no bondinho, espalmando as mãos contra as coxas, demonstrando toda minha evidente ansiedade antes de entrar no clube para a formatura do pré-escolar (e o medo da valsa?).

Porém, tais lembranças não suscitaram vontade alguma de retornar a esses lindos e lúdicos momentos. Optei por não escrever sobre eles, nem mesmo relatá-los.

A única coisa que cutucou minha espinha foi um sonho que não realizei: comprar uma Pampa azul e sair pela cidade batendo em todos os carros e derrubando os edifícios da Avenida Afonso Pena. É incrível o que acontece com um ser humano quando não atinge os sonhos almejados. Hoje eu sou assim.

Na verdade, eram dois sonhos. O outro, era ter talento suficiente para ser um músico genial e atender pedidos numa roda de violão. Mas isso seria muito difícil, é pra poucos que nascem com um dom. Então, resolvi criar um blog.


*Fabiano Battaglin, hoje com 24 anos, é apenas um blogueiro despretensioso esperando por pedidos que não serão atendidos. Ouviu, Tiago?

sexta-feira, novembro 9

Sai, carrapato!

Responda rápido: de que cor é esse blog? Verde. Há-há, atravessei sua resposta. Mas você ia responder isso de qualquer jeito. Todo mundo sabe que isso é verde.

Como você sabe que o verde que você vê é o mesmo verde que os outros vêem? Os daltônicos não sabem que são daltônicos. Verde é só uma palavra. A cor, só Deus sabe como é que é. Se Ele não for daltônico.

Você já teve um amigo imaginário? Você sabia que ele era imaginário? Os loucos têm certeza de que não são loucos. E se todos os seus amigos forem imaginários? E se tudo for imaginário?

Caralho, Fabiano. Vai estudar semiótica. Ou assistir Matrix!

*Porque uma ou duas risadas valem muito mais que oito molas sob seus pés. Aliás, no seu aniversário você cobra presentes dos seus amigos? Não? O Stallone Cobra.

quinta-feira, novembro 8

Os pombos somos nozes

Hoje, num intervalo de alguns minutos, vi alguns casais de pombos.

Não os pombos aves, ratos de asas, extremamente habilidosos e ágeis na arte de não serem atropelados, por mais de supetão que se lhes aproxime.

Vi os pombos figurativos, mais usados no diminutivo, apaixonados, que se “asasam” loucamente pelos cantos de qual for o recinto em que se encontrem. Explico: se “abraçar” significa apertar ou rodear com os braços (obrigado, Sr. Aurélio), “asasar” seria, numa definição livre, apertar ou rodear com as asas. Óbvio, não? Não sou poeta, mas tenho a licença.

Neologias à parte, passemos ao que interessa. Pois bem, ao subir as escadas rolantes da estação São Judas, da linha azul (na verdade não se sobe escadas rolantes; é-se subido), avisto o primeiro casal de apaixonados. Lá estavam os pombinhos, amalgamando-se no canto mais canto da estação. Corrijo-me: a fêmea em questão não era tão inha assim. Obesidade quase mórbida. Bem, possível explicação para o amasso escondido lá no cantinho. O cara devia estar envergonhado. Segui meu caminho.

Saio da estação, viro à direita e sigo pela Avenida Jabaquara. Já quase na esquina com a Indianópolis, ali no ponto onde alguns pegam o Jardim Miriam, outros, o Aeroporto Via Miruna, vejo uma cena curiosa: três casais de pombinhos se “asasando” e se beijando. Não, não é exagero. Escrevo aqui os dígitos e por extenso: 03 (três) casais de enamorados indivíduos na plena efervescência do amasso. Reconheço que às vezes sou um exageródromo. Utilizo-me de linguagem caricata e dados fictícios de modo a ilustrar meu ponto de vista e persuadir o leitor. Mas, desta vez, acredite, os dados são fidedignos.

Era praticamente uma suruba no pombal. Pensei eu que uma onda de amor havia inundado a terra da garoa. Já me imaginei na propaganda da Coca-cola, transferida para as ruas paulistanas, nenhum cidadão estressado ou buzinando, todos dançando ao som de “you give a little love, and it all comes back to you”. Doce ilusão. Após um breve momento de reflexão, matei a charada e descobri que, de amor, aquilo não tinha nada.

Percebi o quão efêmeros eram aqueles relacionamentos. Completamente fugazes. Na atual conjuntura amorosa do país – e do mundo –, comprometimento é a última coisa que passa pelas cabeças-de-pombo que se engajam com alguém do sexo oposto. Relações breves, sem significado, sem obrigações, sem compromisso.

E entendi, então, que todos os casais naquela tarde chuvosa de novembro estavam posicionados estrategicamente. Alguns no ponto de ônibus, outros na estação do metrô. Exatamente onde tudo é passageiro.

*Fabiano Battaglin está muito satisfeito com seu relacionamento estável e perene. E caso esse texto seja algum dia lido no Programa do Jô, desculpa-se desde já pela discriminação para com os obesos mórbidos.