quarta-feira, janeiro 27

A inexorável ansiedade do ser

(...) não era um, eram dois. Eram sempre ele e sua robusta ansiedade. A ela, queria matar. E queria não mais ser dois, mas três. Queria ser Fabiano, Xico e Antônio. O Xico, Sá. O Antônio, Prata.

O Xico, pelo escracho inteligente, a safadeza inerente e o portunhol convincente. O Antônio, pela sensível fluidez das idéias mirabolantes e únicas que viravam palavras mirabolantes e únicas em textos redondos.

Enquanto o Xico xarope xingava, Antônio saltitava entre parágrafos. E Fabiano engatinhava ali no meio, escrevendo sem personalidade, cheio de dúvidas entre suas vírgulas. Porque ansiava e sofria, antecipado. (...)


*Parte do texto que escreverei quando for um escritor de sucesso. Não que eu esteja ansioso para sê-lo, mas pra que deixar para amanhã o que se pode fazer hoje?

sábado, janeiro 23

Disneylândia II

Foi o Rubem Fonseca quem começou. Abusou de mitologia, inglês e francês para dizer que as putas pobres do Rio de Janeiro não estavam aptas a entender o wit de seus contratantes. Terminado o conto, fechei o livro e entrei na sala para ver o filme americano. Warren Beatty e Faye Dunaway empunhavam suas Smith-Wesson em sua jornada pelo sul dos EUA. Foram mortos por armas talvez da mesma marca. The End.

Saí do filme, li o short message service no meu Motorola e liguei para minha amiga atriz recifense que conheci em São Paulo e filmava seu programa em Buenos Aires, para um canal infantil americano. Combinamos um carioquíssimo chopp para mais tarde.

Resolvi ver o mar. Na ciclovia, pedalava Antonio Caloni, ator de sucesso, descendente de italianos. No calçadão, caminhava Iran, ex-BBB (programa criado na Holanda) de quase sucesso, descendente de africanos. Na areia, a porrada comia solta. Um bando de brancos, mamelucos, caboclos e mulatos fracassados. E olha que o Haiti não é aqui. No Rio, você não precisa assistir a Avatar e nem de óculos especiais para ver a vida em três dimensões.

Nos auto-falantes berrava uma banda nova-iorquina cujo baterista é brasileiro. Acelerei o carro da montadora japonesa para chegar logo em casa e escrever um texto sobre globalização. Mas lembrei que os Titãs já haviam feito isso em Disneylândia, do álbum Titanomaquia, mais de dez anos atrás.

Talvez, se eu tivesse um relógio suíço, não chegasse tão atrasado.