quinta-feira, agosto 28

Orgulho de ser brasileiro?

A equipe brasileira de futebol feminino desembarcou em São Paulo recebida por fãs elogiando a prata conquistada em Beijing. Ou seria criticando o ouro perdido?

A expressão da vez na nossa criativa e originalíssima mídia é “preparo psicológico”. Os meninos do vôlei de praia, as meninas da ginástica (inclui-se aí aquela que caiu sentada), os judocas, a todos faltou preparo psicológico para não amarelar no final.

Mas alguém falou disso ANTES das olimpíadas?

Brasileiro tem mania de arrumar desculpas para os fracassos. Durante o Pan 2007, todos heróis. Um ano depois, piadinhas na internet dizendo que o Brasil consegue mais bronze que bronzeamento artificial. Idolatraram o Thiago Pereira e o João Derly para depois enrabá-los em rede nacional. A Jade, coitada, daquele tamanho, deve ter doído. Cada hora um repórter encontra um país de nome mais estranho para dizer que está à frente do Brasil no quadro de medalhas.

Aí, depois da sessão mete-o-pau, é hora daquelas duas palavrinhas que ficam cada vez mais comuns: encontrar uma desculpa, mas também um culpado. A desculpa: falta de preparo psicológico. O culpado: o governo (de novo), por não dar o incentivo necessário aos atletas. Interessante, não? Ambas as palavras derivadas de uma só, a mais importante: culpa.

A culpa é do Bradesco, que deu um caminhão de dinheiro pro Thiago Pereira, e sequer sabia quem era César Cielo, porque precisava patrocinar um ídolo que desse resultado imediato entre o Pan e as Olimpíadas? E você, sabia quem era o “Cielão”, agora tão íntimo dos cidadãos brasileiros?

A culpa não é só do governo, não é só do Bradesco, nem dos CRPDs (Conselho Regional de Psicologia Desportiva, se isso existisse) do Brasil. É de todos nós. Somos imediatistas, preguiçosos e desinteressados. Ninguém se interessa pela Superliga de Vôlei, pelo Troféu Brasil de Atletismo ou pelos Jogos da Primavera da escola do Juninho. Mas quando chegam as Olimpíadas, procuramos desesperadamente um grande ídolo que faça o Brasil superar a Argentina no número de medalhas.

Esperamos mais um fracasso da seleção feminina para cobrar da CBF um campeonato nacional para as meninas, mas durante o ano só temos olhos para a UEFA Champions League na ESPN e, quando dá, damos uma olhadinha no campeonato brasileiro (de homens). Tudo bem, esse ano tem uma exceção deliciosa na Série B, que agora infelizmente não vem ao caso.

No Brasil, falta planejamento, dedicação. Falta entender que entre uma Olimpíada e outra, entre uma eleição e outra, existem alguns anos. E a cada ano olímpico, a cada ano eleitoral, vemos na mídia as mesmas estórias de sempre. E o mais triste, sem perspectiva alguma de mudança.

Michael Phelps é supercampeão. Michael Schumacher já foi. E a nossa Maicon, junto com o resto da seleção feminina? Como diria o Capitão Nascimento, “nunca serão”.

*Fabiano Battaglin é brasileiro e não desiste nunca.