tag:blogger.com,1999:blog-377686432024-03-21T09:24:51.357-03:00Privada CriativaMinha escrita é algo que vem de dentro, feito um peido.
Meu processo criativo é mais ou menos como o defecativo.
Pego tudo que ingiro, dou uma filtrada, e o que sobra eu ponho pra fora. Ou seja, só escrevo merda.
E pra onde vai a merda? A não ser que você não seja civilizado, esteja acampando, ou o seu barraco não disponha de saneamento básico, vai pra privada, é claro. Daí o nome do blog. Críticas construtivas são bem-vindas. As destrutivas, dou descarga.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.comBlogger43125tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-21067417955968767882011-09-02T00:04:00.002-03:002011-09-02T00:59:54.985-03:00House of Cards[or Debris]<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Alguns relacionamentos são como ocas. Outros, mais
resistentes, podem parecer mansões – paixões. Até mesmo os castelos, porém, são
feitos de cartas: qualquer vento pode pô-los abaixo.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não, não precisa ser o
potente sopro do Lobo Mau; um suspiro enfastiado, um bafo de cachaça, pouco
basta para tudo desmoronar. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ouço a canção do <a href="http://www.youtube.com/watch?v=8nTFjVm9sTQ">Radiohead</a> que suscita cheiros e memórias mais
belos que os entulhos, sobre os quais estou sentado, daquele castelo anunciado.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Só me restou o calabouço.<o:p></o:p><br />
<br />
<br /></div>
Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-12643174835520687862011-07-14T14:00:00.001-03:002011-07-14T14:02:56.080-03:00Corriqueiro<br />
Um casal caminha, abraçado, pelo shopping.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo [sério] </b></div>
<div style="text-align: center;">
Achei meio forçada aquela história do cara ficar cego no acidente de carro. Puta dramalhão.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice [empolgada] </b></div>
<div style="text-align: center;">
Você não viu o médico explicando? Era cegueira cortical, é irreversível. Olha que genial, o cara precisou perder a visão pra poder olhar pra dentro e resolver os problemas pessoais dele. Ai, eu amei o filme. E as cores, então? Aqueles tomates vermelhíssimos... A-DO-RO Almodóvar.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo</b></div>
<div style="text-align: center;">
Eu ainda acho que o do Robert Rodríguez seria melhor. Prefiro o vermelho do sangue.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice </b></div>
<div style="text-align: center;">
É... Se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo?</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo</b></div>
<div style="text-align: center;">
Sabe que quem escreveu isso foi Machado? E ele é unanimidade. Paradoxal, né? Quer um sorvetinho?</div>
<br />
Maria Alice faz que sim com a cabeça, sorrindo.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
Sorvete, sim, é unanimidade.</div>
<br />
Os dois caminham até a sorveteria. Bernardo pega uma casquinha de baunilha e Maria Alice, uma mista. Continuam caminhando por um tempo, calados, concentrados em seus sorvetes.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo </b></div>
<div style="text-align: center;">
Sabia que dá pra ler a personalidade de uma pessoa pelo jeito que ela chupa sorvete?</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
Como assim?</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo </b></div>
<div style="text-align: center;">
Olha, você passa a língua na horizontal, às vezes na diagonal, girando o sorvete. Eu chupo sempre de baixo pra cima.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice </b></div>
<div style="text-align: center;">
É pro sorvete não escorrer pela casquinha, ué. Tá, mas o que isso quer dizer? </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo</b></div>
<div style="text-align: center;">
Que você é meio caótica. Dá pra saber também pelo jeito de tomar chopp. Sabe aquelas marcas de espuma que vão ficando pelo copo? Já notei que as suas são assimétricas, e...</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
Pode parar. Lá vem você querendo me julgar de novo. Acho que você devia parar de observar as pessoas e olhar mais pra si mesmo.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo</b></div>
<div style="text-align: center;">
Tipo você, que se olha em todo espelho ou reflexo que aparece pela frente? Até na tampa da panela de inox você...</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
Olha aí, me julgando de novo.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo</b></div>
<div style="text-align: center;">
Não é julgamento, é observação, constatação. Você sabe que eu sou racional.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
Eu acho é que você tá numa semana de insegurança, e isso faz você frisar os defeitos dos outros, pois isso te conforta e faz seus defeitos parecerem normais. Eu li ontem no site do Quiroga, a sua lua entrou em escorpião, e isso é terrível porque...</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo [irritado]</b></div>
<div style="text-align: center;">
Horóscopo, Maria Alice? Porra, vai me falar de horóscopo agora? Você precisa parar de ler essas merdas, de ler Susan Miller, ler Caio Fernando Abreu, coisas de mulherzinha, ler as profecias maias sobre 2012, ler futuro em borra de café. Isso é completamente irracional.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice [triunfante] </b></div>
<div style="text-align: center;">
Racional é ler personalidade em copo de chopp, né?</div>
<br />
Breve silêncio.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo [sem graça] </b></div>
<div style="text-align: center;">
É... Você ficou com o cartão do estacionamento?</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Maria Alice sorri e dá um beijo no rosto de Bernardo.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
Esse não foi só um beijo de inércia de um casal comum, viu?</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Bernardo sorri, ainda sem graça.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Bernardo</b></div>
<div style="text-align: center;">
Tá bom, ô Srta. Almodóvar...</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Maria Alice morde um pedaço da casquinha, deixando cair um pouco de sorvete no chão, e ri.<br />
<br />
Bernardo sorri, desta vez sinceramente.<br />
<br />
Maria Alice abraça Bernardo, aperta sua bunda e, insinuante, diz:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Maria Alice</b></div>
<div style="text-align: center;">
É melhor a gente ir logo pra casa, hoje é sexta-feira treze.</div>
<div>
<br /></div>
Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-67153470729622297412010-12-17T20:01:00.004-02:002010-12-17T21:39:06.553-02:00Mariposa<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu5wWkSxGNbWyz0Kmn6OnJpRTmMreEHhIZL5GUPwpN3cZbRMgWmcz29Sic_GZ0y1SNdf_5bpbDnBHHXiblE83GplTAsQiIb5xG2hYxBvWM2N4Y5OmZTrsT2WDIDYaOCKHOAX6m/s1600/DSC06713.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 214px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu5wWkSxGNbWyz0Kmn6OnJpRTmMreEHhIZL5GUPwpN3cZbRMgWmcz29Sic_GZ0y1SNdf_5bpbDnBHHXiblE83GplTAsQiIb5xG2hYxBvWM2N4Y5OmZTrsT2WDIDYaOCKHOAX6m/s320/DSC06713.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5551797768876697042" /></a><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Ao fim de um relacionamento, além daquela certa confusão e falta de rumo, bate uma sensação com a qual boa parte de quem ler as próximas linhas vai se identificar: parece que, depois que você termina, ninguém mais sequer olha para você.</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Tu tá lá, namorando, tranqüilo, bonitão, e não para de aparecer mulher caindo em cima. Mas é só terminar, meu camarada, que garota nenhuma vai se interessar por você. Dizem que é coisa de hormônio, mas eu prefiro acreditar que mulher tem um ótimo faro para miséria. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Se a teoria já se aplica à pobreza material, ao sofrimento emocional, então, nem se fala. O mancebo, quando sôfrego, angustiado, deve franzir mais a testa, curvar mais a coluna e, sem dúvidas, emitir alguma essência que nem os mestres perfumeiros da Givenchy conseguem decifrar. E nem querem, pois, ao invés de atrair as fêmeas, esse nosso odor de cão-sem-dona não faz outra coisa que não repeli-las.</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Confesso que estou nessa fase. Sinto-me um banco de praça recém-pintado, sozinho, abandonado, sem poder se mexer (quanto drama). O que me resta é esperar, só esperar. Quando passar o cheiro da tinta fresca, alguma bunda deliciosa vai aparecer e sentar no meu colo. Mas, por enquanto, todo mundo passa longe. Quase posso ver a cara feia das meninas quando cruzam comigo. Sentem minha desgraça e evadem. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Dia desses, entrou uma mariposa pela janela do meu quarto. Pensei: mais um ser feminino para farejar minha miséria. Ou seria um sinal? Mas que sinal? Dizem que mariposas trazem azar. Será? </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Comecei a procurar. “Mariposa” é como chamam os gays no Paraguai. Será que eu deveria virar veado para parar de sofrer com as mulheres? Não, nem pensar. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">A segunda opção, porém, me deu esperanças. Mariposa, em francês: “papillon de nuit”. Em tradução livre, algo como “borboleta da noite”. Olhei para a dona lepidóptera parada em cima do armário e notei que ela não fugiu de mim. Talvez porque eu não mais a visse como um inseto agourento, mas como um bichinho simpático que voa no escuro. E não tivesse mais medo dela. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">A maior degradação, companheiro, é o medo. Medo de enfrentar, de caminhar. Medo de seguir. Medo de mudar.</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Quem sabe amanhã eu volto a sentir borboletas no estômago por alguém e a miséria volta pro inferno, junto com seu cheiro de enxofre? Era o que bastava para que eu dormisse feliz. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Na noite seguinte, a mariposa voltou. Bateu no ventilador de teto e morreu. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Descanse em paz, querida. Obrigado pela lição.</div>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-68202637761063207172010-08-22T08:00:00.002-03:002010-08-22T08:00:31.966-03:00Alice<div class="MsoNormal">Quero você nua tomando café da manhã sentada no chão do nosso quarto claro sem cortinas e sem vírgulas. E se você sentir frio eu te coloco o casaquinho com capuz. Vamos morar num desses art déco com lustres antigos mas sem interruptores nem interrupções. Pra quando ficar escuro a gente só se ocupar em dormir. Quero você charmosa magra fumando na janela pra fumaça dançar quando tocar a nossa música na vitrola véia. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Te compro umas meias grossas que vão até o joelho pra você se confortar. Vão ser marrons. Quero seu dedão de algodão arrastando na minha canela ressecada. Não quero nem saber de estrelas quero suas séries de TV. Vou ser pequeno feito a sua calcinha e não exigirei nada. Nada. Quando acabar acabou. Ponto final é mais charmoso que vírgula. Quando termina começa outra coisa. Não faz remendos fajutos.</div>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-19699747463672255122010-04-06T13:31:00.000-03:002010-04-06T13:31:00.458-03:00No me importa, señor.<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Adriana, Alessandra, Aline, Arnaldo...<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">A lista de chamada era sempre comprida. Cumprida invariavelmente até o final, todo santo dia - e mais ainda nos dias infernais - com uma monotonia maldita que esbarrava nos ouvidos recém-despertos, a declamação em ordem alfabética feita pela "tia" tornava fácil, através da repetição, a tarefa de decorar o nome de todos os coleguinhas da sala, por mais que se realizasse em um horário em que nem todos os sentidos estavam perfeitamente aguçados.<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Naquela época, eu associava os nomes a características físicas ou comportamentais que, a meu julgar, diziam tudo sobre a pessoa em questão. Alessandra era a gordinha da lancheira cor-de-rosa que, embora sentasse seu imenso traseiro na primeira fileira, não entendia bulhufas na aula de matemática. Ricardo, sempre o primeiro a chegar à quadra de futsal quando soava o sinal para o recreio, tinha suas inconfundíveis bochechas rosadas sempre salpicadas de gotículas de suor.<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Nomes, principalmente no início de nossa vida em sociedade, significam muito. Meu irmão, aos quatro anos de idade, na tentativa de evitar uma desastrosa formação de caráter provocada por um equívoco no momento de escolha das poucas letras que acompanham o sujeito até o fim de seus dias, interpelou assertivamente meu pai, que decidira-se por batizar-me Fábio, protestando: "Como assim? Fábio, não. Fábio é chorão, eu quero Fabiano".<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Não creio que a fraterna intervenção tenha sido decisiva na contenção das lágrimas que de meus olhos desabam, embora, para ele, aquilo fizesse o maior sentido do mundo. Talvez houvesse um coleguinha chamado Fábio que chorava sempre que sua mãe o deixava na escola. Quem sabe, um filme da Temperatura Máxima tivesse como protagonista um personagem de mesmo nome que abria o berreiro por motivos bobos. <o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Mesmo entre os adultos, quem nunca conheceu uma pessoa de vista e, ao saber seu nome, decepcionou-se completamente? "Pôxa, você não tem cara de Eustáquio". O ponto é que automaticamente associamos nomes a características, qualidades, defeitos. Godofreda não pode ser o nome da deliciosa morena de 22 anos que debruça todo seu charme decotado sobre minha mesa do escritório quando precisa da minha rubrica. De jeito nenhum!<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Existe alguma experiência, visão ou impressão que fica guardada em um lugar qualquer de nosso cérebro que é imediata e automaticamente associada a um nome quando o lemos ou ouvimos, provocando sensações boas ou ruins. A boa (ou má) notícia é que essa associação pode ser forjada ou alterada através de alguns meios naturais, e outros não tão ortodoxos.<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Um exemplo histórico vem bem a calhar: na China comunista de meados do século XX, o culto à personalidade do "Grande Líder", através de massiva propaganda e repressão, fez com que o nome de Mao fosse adorado pela esmagadora maioria da população daquele país. Algo que, para nós, parecia do mal - menos pela semelhança fonética entre "Mao" e "mau" do que pelos constantes alertas sobre o perigo vermelho em nossas terras -, para eles era motivo de orgulho e veneração.<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Por aqui, um fumante de hábitos grosseiros que coçava as partes íntimas em público, o operário e sindicalista cheio de ódio ganhou um sufixo diminutivo, paz e amor. Junto, veio a aprovação. Os ternos Ricardo Almeida e as menções ao time de futebol do coração mudaram completamente a imagem associada a um simples nome de duas sílabas, hoje simpático: Lula. <o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">O perigo das associações automáticas pode ser evitado aplicando-se uma análise racional de propostas, intenções, histórico e caráter de qualquer pessoa ligada a um nome. Afinal, passou-se o tempo em que Luiz era apenas o gordinho carismático lá do fundão, que o professor chamava de “o cara”.<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Para finalizar, um exercício: o que lhe vem à cabeça quando você lê o nome “Dora”? Uma babá carinhosa? Uma saudável jogadora de vôlei? A amável cozinheira do refeitório da faculdade? Pois bem, sabe qual era o nome da arma de artilharia nazista mais potente da II Guerra Mundial? Pois é, “Dora” era como nosso querido Adolf chamava seu brinquedinho de destruição.<o:p></o:p></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><br />
</div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Mais uma: que tal “Dilma”? Bom, essa eu deixo para você.<o:p></o:p></span></div>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-66807132174551406322010-01-27T19:43:00.000-02:002010-01-27T19:47:27.584-02:00A inexorável ansiedade do ser(...) não era um, eram dois. Eram sempre ele e sua robusta ansiedade. A ela, queria matar. E queria não mais ser dois, mas três. Queria ser Fabiano, Xico e Antônio. O Xico, Sá. O Antônio, Prata. <br /><br />O Xico, pelo escracho inteligente, a safadeza inerente e o portunhol convincente. O Antônio, pela sensível fluidez das idéias mirabolantes e únicas que viravam palavras mirabolantes e únicas em textos redondos.<br /><br />Enquanto o Xico xarope xingava, Antônio saltitava entre parágrafos. E Fabiano engatinhava ali no meio, escrevendo sem personalidade, cheio de dúvidas entre suas vírgulas. Porque ansiava e sofria, antecipado. (...)<br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">*Parte do texto que escreverei quando for um escritor de sucesso. Não que eu esteja ansioso para sê-lo, mas pra que deixar para amanhã o que se pode fazer hoje? <br /></span>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-67731400981397931102010-01-23T18:56:00.003-02:002010-01-23T19:06:41.112-02:00Disneylândia IIFoi o Rubem Fonseca quem começou. Abusou de mitologia, inglês e francês para dizer que as putas pobres do Rio de Janeiro não estavam aptas a entender o <em>wit</em> de seus contratantes. Terminado o conto, fechei o livro e entrei na sala para ver o filme americano. Warren Beatty e Faye Dunaway empunhavam suas Smith-Wesson em sua jornada pelo sul dos EUA. Foram mortos por armas talvez da mesma marca. The End.<br /><br />Saí do filme, li o <em>short message service</em> no meu Motorola e liguei para minha amiga atriz recifense que conheci em São Paulo e filmava seu programa em Buenos Aires, para um canal infantil americano. Combinamos um carioquíssimo chopp para mais tarde.<br /><br />Resolvi ver o mar. Na ciclovia, pedalava Antonio Caloni, ator de sucesso, descendente de italianos. No calçadão, caminhava Iran, ex-BBB (programa criado na Holanda) de quase sucesso, descendente de africanos. Na areia, a porrada comia solta. Um bando de brancos, mamelucos, caboclos e mulatos fracassados. E olha que o Haiti não é aqui. No Rio, você não precisa assistir a Avatar e nem de óculos especiais para ver a vida em três dimensões.<br /><br />Nos auto-falantes berrava uma banda nova-iorquina cujo baterista é brasileiro. Acelerei o carro da montadora japonesa para chegar logo em casa e escrever um texto sobre globalização. Mas lembrei que os Titãs já haviam feito isso em Disneylândia, do álbum Titanomaquia, mais de dez anos atrás. <br /><br />Talvez, se eu tivesse um relógio suíço, não chegasse tão atrasado.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-18140109180755304222009-11-06T00:06:00.007-02:002009-11-06T02:18:19.313-02:00@fbattaglin tem texto novo no blog.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_wyofdHOvlhI/SvOFO_NHGXI/AAAAAAAAAJg/9Ws_keo5yfY/s1600-h/Twitter-bird-logo-001.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 192px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_wyofdHOvlhI/SvOFO_NHGXI/AAAAAAAAAJg/9Ws_keo5yfY/s320/Twitter-bird-logo-001.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400806870678444402" /></a><br /><br />Tem duas coisas nas quais eu reparo mais do que em outras: mapas e o uso da língua portuguesa. Por exemplo, não gostei da frase aí de cima. Pode parecer ridículo, mas se um mapa geopolítico da Alemanha democrática pós-reunificação ou uma mesóclise quase me levam ao orgasmo, o problema é meu. <br /><br />Pois bem, vamos à Nossa Língua. Acho interessante a variedade e a riqueza das frases de MSN, Twitter, Orkut, Facebook ou de qualquer outra desculpa tecnológica para matar trabalho.<br /><br />Além de excessivas abreviações e erros ortográficos, não existem muitas convenções ou regras no que tange à construção dos períodos que são expostos a milhares de pessoas (se você é pop) ou àqueles seus 3 seguidores (<span style="font-style:italic;">loser</span>) nesse mundo sem leis.<br /><br />Uma das coisas que me intrigam é o fato de começar a ler uma frase sem saber se ela foi escrita em primeira ou terceira pessoa. Explico: “@marialuiza tá muito quente hoje!” E aí, é a Maria Luiza fazendo considerações exclamativas sobre o tempo ou a garota está num período de tensão sexual? Febre, talvez?<br /><br />A ambigüidade é incitada pela pergunta feita na caixa de texto destinada à escrita da frase (o que você está fazendo?) somada ao modo como é visualizado o que o usuário escreveu. Muitas vezes, não há espaço entre o nome da pessoa e a frase por ela escrita.<br /><br />Outro episódio: abro o MSN e deparo-me com um “Ighor – vendo jogo”. Pensei que, finalmente, ia encontrar aquela edição de luxo limitada do War que procurava há séculos. Mas, não. Era apenas um tricolor desesperado vendo seu time tentar uma vaga na semifinal da Sul-americana.<br /><br />Eu critico, mas sei que a vida é assim. Nunca sabemos ao certo o que encontraremos. Aliás, quase nunca. Se o Pelé usasse o Twitter, com certeza usaria só a terceira pessoa. Ou seria o Edson?Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-68282058603195671532009-11-04T04:54:00.002-02:002009-11-04T04:56:31.703-02:00Fé demais<a href="http://www.flickr.com/photos/jennyterasaki/3229106163/" title="photo sharing"><img src="http://farm4.static.flickr.com/3339/3229106163_4ea1fe6366_m.jpg" alt="" style="border: solid 2px #000000;" /></a><br /><span style="font-size: 0.9em; margin-top: 0px;"><a href="http://www.flickr.com/photos/jennyterasaki/3229106163/">stillness</a> <br />Upload feito originalmente por <a href="http://www.flickr.com/people/jennyterasaki/">ღĴęNňζ™</a></span><br clear="all" /><p><br /><br /><br />Brisa ideal das costas largas<br />platônico vento alcança?<br />Vento e música: ato puro <br />sexo alcança?<br /><br />Mergulha, procura, Epicuro.<br />O lado de cá cansa.</p>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-53210018981902466832009-10-29T10:04:00.002-02:002009-10-29T18:47:33.740-02:00O passado<a href="http://www.flickr.com/photos/bigawk/34888572/" title="photo sharing"><img src="http://farm1.static.flickr.com/23/34888572_575a97780e_m.jpg" alt="" style="border: solid 2px #000000;" /></a><br /><span style="font-size: 0.9em; margin-top: 0px;"><a href="http://www.flickr.com/photos/bigawk/34888572/">CHUBBY SWINGER KID</a> <br />Upload feito originalmente por <a href="http://www.flickr.com/people/bigawk/">BIGAWK</a></span><br clear="all" /><p></p><br /><br />A partir de hoje, vou procurar ilustrar os textos com fotos bacanas que encontro nas minhas andanças pelo Flickr. Deixo claro que os autores estão indicados logo abaixo das fotos/desenhos/ilustrações. Não deixa de ser um incentivo aos direitos autorais num mundo virtual quase sem leis, onde qualquer texto é do Jabor, do Veríssimo ou do Quintana e o trabalho de fotógrafos e artistas é ignorado.<br /><br />Para inaugurar, um desenho genial que me faz voltar à minha infância robusta e corada. Swing, chubby boy!Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-79986719896615801552009-10-19T04:07:00.002-02:002009-10-19T04:13:33.749-02:00Realidades da economia e da política explicadas por fábulas(?) virtuaisSe o mercado de <span style="font-style:italic;">virtual estate</span> americano entrasse em crise hoje, o Brasil só sentiria uma “marolinha”. Mesmo após a quebra do Facebook Brothers, o país se recuperaria muito mais rapidamente do que seus concorrentes. Afinal, brasileiro é atrasado e só usa Orkut.<br /><br />O pré-sal é o Orkut do Brasil. Enquanto outros países tuítam novas formas de energia renovável, o governo Lula resolve mandar scrap. <br /><br />Obama fez uma bruta campanha usando o twitter como ferramenta de comunicação direta com os eleitores. Alguns meses depois, a Petrobras monta um blog como mecanismo de intimidação para dificultar o trabalho da imprensa.<br /><br />E ainda tem gente pessimista que diz que o Brasil será eternamente o país do futuro.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-8524135216903384252009-10-06T16:01:00.001-03:002009-10-06T16:04:03.776-03:00O último nostálgicoEnquanto na fila para assistir ao enésimo filme no Festival do Rio, vejo Arnaldo Jabor saindo da sessão anterior. Surpreendo-me, menos por tietagem do que pela aparência acabada do grande e exemplar escritor-cineasta-cronista-crítico brasileiro. <br /><br />Na qualidade de ex-integrante de uma comunidade de rede social dedicada a ele, senti-me na obrigação de observá-lo por alguns instantes. Elogiei mentalmente a equipe de maquiadores da Globo, que habilmente disfarça a avançada idade que Arnaldo deixa transparecer numa despretensiosa sessão de cinema de segunda-feira. Aquelas marcas de expressão trouxeram-me a explicação para a partícula “ex” anexada ao substantivo “integrante”, na frase que inicia este parágrafo. De uns tempos para cá, as crônicas de Jabor me vinham fatigando. As doses exacerbadas de sua visão nostálgica pulverizaram de tédio não só seus textos, mas também minha admiração por ele, iniciada há alguns anos, quando minha primeira sogra presenteou-me com um de seus livros. <br /><br />Sempre fui um crítico contumaz da nostalgia. Ouvia desconfiado, desde cedo, os tios contando vantagens de sua mocidade. “Eu, na sua idade, não estava na barra da saia de mamãe pedindo doce. Estava jogando bola, correndo, era o melhor lateral-direito do bairro”. Reprovava os amigos bêbados de meu pai que diziam “pegar as mais gatas da faculdade, ir a todas as festas e ainda tirar notas boas”. Não dava ouvidos nem ao meu avô, que afirmava que “no governo Vargas, isso não acontecia”.<br /><br />A nostalgia é a porção otimista de um retrovisor multifocal que aumenta ou diminui o que passou, dependendo do ângulo pelo qual é olhado. <br /><br />Sempre acreditei – ou tentei acreditar – que o melhor momento de nossas vidas é agora. Meu escapismo romântico me leva aos sonhos, não ao passado. Quem sabe, um pouco ao futuro. <br /><br />Enquanto observava Jabor indo embora, notando seus cabelos para lá de grisalhos e seu modo já ineficiente de caminhar, imaginei-me daqui a quarenta ou cinqüenta anos. <br /><br />Ao ler os velozes grunhidos dos usuários da mais nova ferramenta de comunicação e informação, vagos, rasos e fugazes, eu olharia para o espelho, para minhas rugas, buscaria um ângulo mais favorável e diria: “não se fazem mais escritores-cineastas-cronistas-críticos como os de antigamente”.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-41374381135457600072009-10-01T12:08:00.003-03:002009-10-01T12:14:54.264-03:00ENEM? Nem.O que o Exame Nacional do Ensino Médio e a Gillette têm em comum? Aparentemente, diria alguém desavisado, nada. Porém, ao se analisar minuciosamente os acontecimentos dos últimos meses, pode-se perceber que há grande conexão.<br /><br />Em agosto deste ano, a Gillette lançou na internet um simulado do novo ENEM (www.mach3apostaemvc.com.br), para que os estudantes pudessem testar seus conhecimentos e se preparar para a prova, que ocorreria nos dias 3 e 4 de outubro. À primeira vista, a ação, comumente praticada apenas por empresas diretamente ligadas à educação, como escolas, cursos pré-vestibular e veículos de comunicação direcionados a estudantes, não fazia muito sentido. Entretanto, um olhar mais atento às práticas contemporâneas de marketing revela uma excelente estratégia por parte da marca de lâminas de barbear. A intenção da Gillette era trabalhar sua imagem junto a um público jovem que poderia comprar seus produtos durante um longo período. Afinal, cerca de 50% dos inscritos na prova passará o resto da vida fazendo a barba, enquanto a outra metade poderá utilizar os produtos em pernas, axilas e outras partes do corpo que julgue necessário.<br /><br />A idéia de fidelizar uma grande parcela da sociedade, no entanto, não foi apenas da Gillette. Na verdade, esta apenas aproveitou-se de uma tática populista e eleitoreira engenhada pelo governo federal e pelo PT, aplicada pelo MEC e sua cabeça pensante, na figura do ministro Fernando Haddad (que, dizem, pleitearia um cargo executivo ou legislativo no ano que vem). A instituição resolveu, no primeiro semestre de 2009, mudar o sistema de seleção de candidatos a vagas nas universidades brasileiras, sob o pretexto de facilitar a vida dos estudantes que, segundo as justificativas do ministério, gastavam tempo e dinheiro excessivos para poder participar dos processos seletivos de várias universidades por todo o país. A proposta era unificar os vestibulares em uma só prova, que foi pintada como a solução para os problemas dos jovens brasileiros – principalmente os de classe mais baixa: o todo-poderoso novo ENEM.<br /><br />A detecção dos problemas foi eficaz. A proposta de intervenção seria eficiente, caso não falhasse em vários aspectos, dos quais enumeram-se apenas alguns a seguir:<br /><br />1 – planejamento e respeito aos trâmites de adaptação dos alunos e das instituições de ensino médio foram ignorados;<br /><br />2 – várias das universidades públicas não aderiram à unificação dos processos seletivos;<br /><br />3 – a maioria das universidades que aderiram utilizará o ENEM apenas como parte de seu processo de seleção, mantendo a segunda fase do processo no modelo tradicional e, em alguns casos, mantendo também sua primeira fase;<br /><br />4 – o candidato teve de pagar, além da inscrição para o ENEM, taxas de inscrição para as outras provas que compõem os processos seletivos citados no item 3;<br /><br />5 – o novo ENEM é composto por 180 questões de múltipla escolha, mais uma redação, a serem completados em 10 horas de prova, modelo que, ao invés de privilegiar o conhecimento, dá mais importância à resistência física do candidato;<br /><br />6 – questões da prova vazaram dois dias antes de sua aplicação, quebrando a confidencialidade e, juntamente com esta, a credibilidade do processo e também da instituição que o idealizou.<br /><br />Devido ao derradeiro imbróglio com o sigilo das questões, o MEC anunciou, em 01/10/2009, o adiamento da prova por pelo menos 45 dias, o que certamente prejudicará o calendário das universidades que dependem dela para a seleção de candidatos. O resultado é uma grande interrogação pairando sobre a cabeça dos 4,1 milhões de estudantes inscritos, que já não sabem quando e como serão realizadas as etapas mais importantes da atual fase de suas vidas.<br /><br />A estratégia do governo, de conquistar jovens eleitores que, teoricamente, teriam seu ingresso em instituições de ensino superior feito de forma mais justa, parece ter saído pela culatra. A Gillette pode até ter sucesso em conquistar jovens clientes. Já o governo, cuja intenção era fazer barba, cabelo e bigode com uma fatia significativa de jovens eleitores, termina por cravar uma lâmina na própria garganta.<br /><br />É o Brasil.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-7495139244153247472009-03-05T11:18:00.003-03:002009-03-05T11:29:00.594-03:00De novo?A imagem, para não dizer linda, era simpaticíssima. Eu caminhava pelo Arpoador, aproveitando minha última semana de ócio no Rio de Janeiro, quando vi, na areia, um garoto de seus 13 anos, solitário, brincando sorridente com sua bola. A cena levou-me de volta à infância, quando, embalado por Romário e Bebeto em sua jornada rumo ao tetra, eu mirava a pelota no ângulo e soltava meu petardo de direita. Se realmente houvesse alguém defendendo a meta, ou mesmo um zagueiro que eu brilhante e imaginariamente driblava, seria um gol de placa.<br /><br />O garotinho do Arpoador era uma alegria só. No seu Maracanã de areia, seguia ávido em direção às traves de garrafas pet. Ele próprio era o atacante, a torcida e o narrador. O sorriso e o brilho no olhar revelavam o júbilo sonhado por todo brasileiro: o gol no estádio lotado, narrado com empolgação e emoção por uma lenda do jornalismo esportivo. Na comemoração, corria em direção ao mar – neste caso, literal – de torcedores que o exaltavam como ídolo do time do coração.<br /><br />O saudosismo, via de regra, nos leva a dizer que não existem mais craques, torcidas e tampouco narradores como os de antigamente. Porém, não me enquadro nessa categoria de saudosistas pessimistas, daqueles que não conseguem encontrar beleza em banda nova, carnaval atual ou carro do ano. Acho que o Keirrison tem potencial para ser craque, a torcida do Flamengo anda cada vez mais criativa e a nova safra dos narradores esportivos está muito bem representada por grandes nomes como... er... hum... Luís Roberto, talvez.<br /> <br /><em>“... ele se orgulha de praticar um estilo novo de narração, pontilhada por informações reunidas em horas de pesquisa, e menos baseado na voz potente, como os telespectadores se acostumaram a ouvir desde os “speakers” antediluvianos. Na véspera de cada transmissão, Luís Roberto senta-se em frente ao computador e só sai após acumular um calhamaço de dados sobre times, juízes, jogadores, estádios e competições. O hábito fez dele um arquivo ambulante, que muitas vezes esclarece dúvidas de companheiros no ar, em tempo real.” </em>Do site da ABERT.<br /><br />Fiquei surpreso quando ontem, durante a transmissão de Flamengo x Ivinhema pela Rede Globo, o excelente narrador e pesquisador supracitado cometeu uma pequena gafe: disse que o timaço que enfrentava o Flamengo (o jogo terminou 5x0 para o rubro-negro) havia disputado o campeonato mato-grossense. Cerca de dez minutos depois, muito provavelmente alertado pelo ponto eletrônico (e, mais provável ainda, pela chuva de e-mails de sul-mato-grossenses exaltados), sutilmente frisou que o Ivinhema era o campeão do Mato Grosso do Sul.<br /><br />Um pouco desapontado com o episódio e a falta de preparo geográfico do jornalista, pensei: “se eles têm o ponto eletrônico, nós temos o controle remoto”. Apanhei o dito-cujo e fui direto para a Band. <br /><br />Corinthians x Itumbiara, também pela Copa do Brasil. Senti um certo alívio ao ouvir a voz de um narrador mais experiente e calejado, o famigerado Luciano do Valle. E por falar em experiência, além da possível estréia de Ronaldo pelo Timão, a partida contava ainda, no que tangia à velharia, com mais dois exemplares da velha-guarda brasileira: Túlio Maravilha e Denílson estavam em campo pelo Itumbiara. Pinta a bolinha na tela. Luciano anuncia: “Tem gol! Será que é na Libertadores? Será que é na Copa do Brasil?” Um calor, misturado ao medo, tomou conta do meu corpo, já prevendo mais uma gafe na minha noite de quarta-feira. E não deu outra. “Olha o Flamengo! Fez um a zero no Ivinhema, do Mato Grosso”. Pelo menos não foram necessários dez minutos e nem ponto eletrônico para a correção. Imediatamente, o comentarista e ex-jogador Neto (que não é jornalista), corrigiu o locutor: “Mato Grosso do SUL”.<br /><br />Confesso que o fato de eu ser nascido no Mato Grosso do Sul foi capital na resolução de escrever este texto, mas a questão aqui é mais que xenófoba, regionalista, bairrista, o que for. A questão é a falta de informação. Ou, por incrível que pareça, o excesso dela.<br /><br />A disponibilidade de informação e a facilidade de obtê-la tornaram-se tão grandes que, hoje em dia, ninguém mais sabe de cor e salteado os planetas do sistema solar, a tabuada ou as capitais dos estados brasileiros. Por quê? Fácil. É uma conjunção de três fatores que, dependendo do modo como forem utilizados, podem servir para a informação ou a desinformação. São eles: Google, CTRL+C e CTRL+V.<br /><br />Por saber que, a qualquer hora do dia e da noite, é só mexer no mouse para tirar seu computador do modo “economia de energia”, acessar o Google (isso se já não houver a barra do Google em seu navegador) para se obter a informação que se deseja, as pessoas não têm mais a obrigação de decorar “Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão”, como antes. (Eu sou da época em que Plutão ainda era planeta.)<br /><br />O problema surge quando você não tem tempo de consultar a internet antes de falar, como no caso de Luís Roberto e Luciano do Valle. Ninguém tem a obrigação de saber que o Ivinhema é um time do Mato Grosso do Sul, mas deveriam todos os brasileiros saber que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são dois estados diferentes (já faz 30 anos!) e que não se usa o mesmo adjetivo gentílico para se referir a algo ou alguém de origem de um estado ou do outro.<br /><br />Morei quase 4 anos em São Paulo, agora moro no Rio. Posso contar nos dedos de uma das mãos quantas vezes ouvi alguém falar Mato Grosso do Sul, ao invés de Mato Grosso. Na verdade, creio que poderia até contar nos dedos da mão esquerda do Lula. A propósito, será que o nosso presidente sabe que Campo Grande fica no Mato Grosso do Sul? <br /><br />Podem argumentar que o Mato Grosso do Sul deveria ter adotado outro nome, para evitar confusão. Concordo que ajudaria, mas enfatizo que o problema não está só no nome do meu estado, e sim na preguiça – e, às vezes, ignorância - de muitos indivíduos. Só para constar, durante uma narração em setembro de 2005, Luís Roberto informou que “o Internacional ganhou do Rosario Central em Rosario Central”. Vale esclarecer que o nome da cidade argentina é apenas Rosario. Já Luciano do Valle, na mesma partida acima relatada, chamou por mais de uma vez a equipe adversária do Corinthians de Itumbiaria.<br /><br />Para aqueles que também se indignam com gafes e desrespeitos desse cunho, disponibilizarei um modelo de e-mail a ser enviado quando da ocorrência de mais uma(s) dessa(s) mancada(s) em rede nacional:<br /><br /><em>“Quando será que os digníssimos e gabaritados profissionais da ________________ (nome da emissora) dar-se-ão conta de que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são estados diferentes desde 1979? Estou profundamente desolado com o crasso erro cometido por __________________ (nome do narrador, comentarista, repórter, etc.) durante o ____________________ (nome do programa ou partida), em ___/___/______ (data).”</em><br /><br />Autorizo todo e qualquer cidadão a utilizar o modelo acima. Espero ter auxiliado aos que partilham de minha opinião. Afinal, pra que redigir um e-mail, se podemos usar o CTRL+C e CTRL+V?Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-59412951542244949962009-02-19T15:36:00.003-03:002009-02-19T16:04:50.698-03:00Internet Banking CAIXA - Reclamação 1283141Quatro dias após efetuar uma reclamação sobre o Internet Banking Caixa junto à Ouvidoria da instituição [vide post anterior], recebo, via e-mail, a tão esperada resposta contendo – ou, pelo menos, assim esperava eu – a solução para meu problema.
<br />
<br />Publico aqui, na íntegra, a reprodução da carta, em negrito. Minhas respostas (em itálico), infelizmente ficam no âmbito da imaginação. A instituição referida não se digna a responder por telefone uma reclamação realizada pelo mesmo meio. Evita, assim, mais importunações causadas por clientes idiotas que acreditam valer de algo criticar construtiva e educadamente os serviços deficientes pagos através de tarifas exorbitantes.
<br />
<br />Critico a instituição e dirijo-me a ela como um todo, pois o e-mail não foi sequer assinado por uma pessoa que arriscasse seu nome ao representar o banco.
<br />
<br />Aí vai. Deleitem-se.
<br />
<br />
<br /><strong>Prezado Sr. Fabiano</strong>
<br /><strong>Chegou ao nosso conhecimento a sua reclamação sobre o Internet Banking Caixa, mais especificamente sobre a utilização de navegadores.
<br /></strong>
<br /><em> Correto. Go ahead.
<br /></em>
<br /><strong>Gostaríamos de pedir desculpas pelos transtornos que porventura tenham sido gerados e esclarecer que o Internet Banking aceita qualquer browser que tenha como sistema operacional Windows.
<br /></strong>
<br /><em>O que você quer dizer com “aceita”? Seria no sentido de “ser compatível com”? Pois isso é o que me interessa, e me parece que não foi o caso. Mas isso são águas passadas. Façamos o seguinte: eu aceito suas desculpas, o Internet Banking aceita meu Internet Explorer 7. Fechado?.
<br /></em>
<br /><strong>Em alguns (como o Chrome, por exemplo) poderá ocorrer um pequeno problema de configuração, mas não impede sua utilização.</strong>
<br /><strong>
<br /></strong><em> Não é o meu caso. Eu uso o Windows e o meu navegador é o Internet Explorer 7.
<br /></em>
<br /></strong><strong>Quanto ao Firefox 3, o problema não está no Internet Banking e sim no registro ICP no Brasil da empresa desenvolvedora do browser.
<br /></strong>
<br /><em> Será que eu já mencionei que uso o Internet Explorer 7?
<br /></em>
<br /><strong>Em caso de dúvidas ou problemas no momento do cadastramento, por favor, entre em contato com a nossa central de atendimento pelo 0800 726 0104, que atende 24 horas por dia e todos os dias da semana, e solicite auxílio online para realizar o cadastramento, informando sistema operacional, navegador e versão.
<br /></strong>
<br /><em>Poxa... lembro desse número de algum lugar... Ah, já sei! Não foi o número para o qual liguei logo que tive problemas no cadastramento?
<br /></em>
<br /><strong>Caso não saiba, um de nossos atendentes o auxiliará na obtenção dessas informações.
<br /></strong>
<br /><em> Sim, a atendente me ajudou muito! Pediu para clicar em Ajuda>Sobre o Internet Explorer para verificar a versão do navegador. Segui as instruções e informei que usava a versão 7.
<br /></em>
<br /><strong>Gostaríamos de esclarecer que o navegador Internet Explorer 8 da Microsoft encontra-se em sua versão beta, ou seja, ainda passando por testes e podendo ser modificada a qualquer momento.
<br /></strong>
<br /><em> [Crianças, fechem os olhos.] PUTA QUE PARIU! Quantas vezes vou ter de repetir que a minha versão é a 7? S-E-T-E. Quer em algarismos romanos? VII.
<br /></em>
<br /><strong>A CAIXA, por se tratar de uma empresa grande e em respeito aos seus clientes, utiliza em seus serviços os navegadores mais utilizados no mundo e que já estejam homologados.
<br /></strong>
<br /><em> Por acaso vocês já ouviram falar no Internet Explorer 7? Será que ele já foi homologado?
<br /></em>
<br /><strong>Enquanto a Microsoft não oficializar a versão do IE 8, não poderemos realizar testes e adaptações para sua utilização, por motivos de segurança, para resguardar quaisquer imprevistos que possam ocorrer com tais ferramentas.
<br /></strong>
<br /><em>Tá, mas e o Internet Explorer 7?
<br /></em>
<br /><strong> Tenha certeza de que não estamos insensíveis às manifestações legítimas dos usuários de nossos serviços e de que estamos firmemente adotando as ações que estão ao nosso alcance.
<br /></strong>
<br /><em> Tenho certeza absoluta. Afinal, isso prova que minha reclamação chegou até você, Sra. Gerência, que, com a maior boa-vontade do mundo, analisou A FUNDO meu problema e FORMULOU essa resposta deveras esclarecedora.
<br /></em>
<br /><strong>Esperamos contar sempre com seu auxílio para melhorar nossos serviços.
<br /></strong>
<br /><em>Já que esperam, aqui vai mais um: quando receberem alguma reclamação, leiam atentamente o que o operador de telemarketing de vossa Ouvidoria descreveu. Após copiar e colar uma carta-resposta genérica, adaptem as palavras ao objeto da manifestação legítima do estimadíssimo usuário de vossos serviços. Trocar um “8” por um ‘”7” antes de clicar em “Enviar” faz muita diferença para quem recebe o e-mail.
<br /></em>
<br /><strong>Muito obrigada
<br /></strong>
<br /><em>De nada, é sempre uma honra receber e-mails ao invés de telefonemas. Assim vos poupamos os ouvidos, pois não podemos contestar todas as vossas afirmações de imediato.
<br /></em>
<br /><strong>Gerência Nacional de Internet
<br /></strong>
<br /><em>Sra. Gerência, que nome raro a senhora tem! É de origem espanhola? Sinto que conversaremos muito daqui em diante. Posso te chamar de Gê?
<br /></em>
<br /><strong>CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
<br /></strong>
<br /><em>Caixa, tenho orgulho de ser teu cliente. Representas muito bem o nosso país.</em>
<br />Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-80793501682165654312009-02-12T20:19:00.008-02:002009-02-13T00:41:44.349-02:00Ah, se meu blog tivesse alguns milhares de leitores...Quando você vai ao banco, geralmente estão disponíveis dois ou três caixas “humanos” para atender uma fila gigantesca de pessoas que dão aquela escapadinha do trabalho na hora do almoço, correm para o banco e tentam resolver os problemas de contas atrasadas, recebimento de FGTS e tudo mais que os bancos oferecem a uma tarifa simbólica. Certo?<br /><br />O resultado da corridinha até o banco é, indubitavelmente, o suor. Aí você chega ao seu destino, vê aquela agência lotada e fedida, suspira, olha para o relógio e calcula o tamanho da bronca que vai levar do chefe pelos minutinhos de atraso. Isso, sem contar os gritos do seu estômago que, quase grudado, implora por alguma migalha para digerir. Infelizmente, dado o tamanho da fila, ele terá que se contentar com um cafezinho rápido na volta para o trabalho.<br /><br />Chega a mocinha de colete azul estampado com a linda frase “Posso ajudar?” e vai pegando a conta da sua mão para verificar a data de vencimento. A sabichona dispara:<br /><br />- O Sr. pode pagar essa fatura no caixa eletrônico.<br /><br />Mas ela não sabe que, além de pagar aquela fatura, que ainda não venceu, você ainda precisa fazer uma transferência entre contas do mesmo banco cujo valor excede o limite diário das transações nos terminais eletrônicos. E sim, eu disse entre contas do mesmo banco. “É por motivo de segurança”, alegam.<br /><br />Você pacientemente explica para a garota, que masca um chiclete sabor tutti-frutti (é fácil adivinhar o sabor, pois ela o faz ruidosamente e de boca aberta), que infelizmente precisa ir até a boca do caixa, por causa do limite.<br />Aí vem o interrogatório:<br /><br />- Mas qual é o valor da transferência? É DOC? É TED? O Sr. já tentou no caixa eletrônico?<br /><br />- Minha querida, olha bem pra mim. Você acha que eu me sujeitaria a esse martírio se eu não tivesse absoluta e infeliz certeza de que eu PRECISO ir à boca do caixa? Bonitinha, vai ajudar a moça aqui de trás, vai.<br /><br />Essa é a atual política do sistema bancário: jogar todo mundo pras máquinas. Vamos cortar gastos! Dão menos despesas, não engravidam, não faltam ao serviço... Opa, não faltam ao serviço? E quando cinco dos seis terminais de auto-atendimento te olham sorrindo sarcasticamente, dizendo “Equipamento em manutenção” e a fila acaba ficando do tamanho daquela lá de dentro?<br /><br />Os bancos investem milhões de reais, todos os meses, em propaganda. Um banco adapta seu logotipo para ficar parecido com uma arroba. Outro, diz que estará com você onde você for. São apenas dois exemplos do esforço de comunicação que visa afastar ainda mais os clientes da boca do caixa e das agências. USE O INTERNET BANKING. Daqui a pouco, vão até fazer propaganda subliminar nos cinemas.<br /><br />Pra mim, isso é ótimo. Pertenço à geração que tem internet em casa desde o início da puberdade. Aprendi a resolver problemas – dos financeiros aos sexuais – grudado num computador. Evolui junto a eles. Comecei num trambolhístico 386, hoje estou num laptop de tela ultra-fina de alta definição. Eu evoluí. Os computadores, idem. E os bancos?<br /><br />O problema é que, pelo menos o meu banco (e, agora, cito o nome – Caixa Econômica Federal) parece não conseguir acompanhar o rápido progresso da tecnologia. Há um tempo atrás, eu não conseguia acessar o Internet Banking porque usava o Windows Vista. Até relevei, pois odeio o Vista. Agora, não consigo instalar o so-called Adicional de Segurança porque a versão do meu Internet Explorer é avançada demais.<br /><br />Meu professor de Marketing na pós-graduação dizia: “Nunca prometa o que você não pode entregar”. Isso valia mais que “Não cobiçar a mulher do próximo” para mim. (A intenção aqui era comparar o marketing à religião, nunca dizer que eu cometo qualquer tipo de adultério).<br /><br />A meu ver, existe uma imensa falta de coerência entre a estratégia que os bancos adotam e o que eles realmente oferecem. Expulsam os clientes das agências, pintam o serviço on-line como a milagrosa solução de seus problemas, mas não conseguem adaptar um site a um navegador da MICROSOFT? Só pra constar, o Internet Explorer é o navegador mais utilizado em todo o mundo.<br /><br />Pra onde vai toda a economia que fazem, ao reduzir o número de funcionários nas agências? Será que alguém, além de mim, pensou em “deveria ser investida em Tecnologia da Informação”?<br /><br />Depois de um bom tempo perdido tentando instalar o tal Adicional de Segurança; depois de checar uma a uma as opções na tela de “possíveis causas de erro” para a qual fui direcionado; depois de verificar que eles reconhecem a incompatibilidade com o IE7; depois de tentar fazer o download manual do programa no link oferecido por eles e descobrir que o link não funcionava (também), vi uma luz no fim do túnel: o super Help Desk gratuito.<br /><br />Liguei para o 0800 e, depois do simpático menu eletrônico (mais uma máquina no meu dia), consigo falar com uma mulher que tinha mais voz de máquina que a própria máquina. Era um robô. Pelo menos não assassinava o português com o típico gerundismo da categoria. Após minha detalhada informação, a ciborgue, com sua entonação monótona (e aqui o adjetivo vem, realmente, de “um só tom”), informou que realmente não havia o que fazer neste caso, e que eu “teria que entrar em contato conosco num outro momento para tentar solucionar o problema”. Que momento? Quando? Tem um prazo? É um problema temporário? “Sinto muito, senhor. O senhor teria que entrar em contato conosco num outro momento para tentar solucionar o problema”, repetiu, com as mesmíssimas palavras.<br /><br />Conclusão: eles sabem que existe um problema, não dizem se estão trabalhando para solucioná-lo e, muito menos, quando haverá uma solução.<br /><br />Enfezei. E agora, quem poderá me defender? Quero reclamar, quero expressar minha insatisfação enquanto cidadão e cliente de uma instituição federal pertencente à minha pátria amada, Brasil! Pensei: a Ouvidoria. Encontrei o telefone (também gratuito) no próprio site da Caixa e botei os dedos para funcionar.<br /><br />Outra maquininha me atendeu e me forneceu as opções. A Naty (já estou tão íntimo delas que resolvi dar nomes pra ficar mais agradável) começou: “Para sugestões, elogios ou novas reclamações, digite 2”. Continuou: “Para denúncias, digite 3”. Quando ouvi a quarta opção, juro que pensei em desligar. “Para reclamações não resolvidas, digite 4”. O quê? Existe uma opção exclusiva para reclamações não resolvidas? Pô, a Naty tá de brincadeira.<br /><br />Bufando, apertei o 2. O botão quase emperrou. Já fui esperando mais um atendente ciborgue na linha, mas me surpreendi mais uma vez. O rapaz que me atendeu tinha voz de humano. E, vejam só, não era qualquer voz de um reles humano mortal. A voz do cara era igual à voz dele, o Rei, o atleta do século: Pelé. Foi um susto. Se um dia você estiver sofrendo de soluços, ligue imediatamente para a Ouvidoria da Caixa.<br /><br />Agora, alguém pode me responder quem é o cabeça-de-bagre que contrata, para trabalhar em telemarketing, um sujeito que fala com um ovo na boca? Vai entender.<br /><br />Depois de vários “Hã?”, “Como?” e “Não entendi”, consegui responder às perguntas do Edson (nome fictício, para preservar a identidade do coitado) e registrei minha ocorrência, que consta dos arquivos da Ouvidoria sob o número de protocolo 1283141, que, segundo o Arantes, terá resposta até o dia 19/02/2009. Podem verificar, isso tudo é verdade.<br /><br />Com a vaga sensação de que, no dia 20 de fevereiro, terei de ligar novamente e apertar o botão 4, desliguei o telefone e sentei-me ao meu laptop de última geração, que ainda funciona com o Microsoft Word, e pus-me a escrever este desabafo, imaginando que, se eu tivesse uma coluna n’O Globo ou na Folha de São Paulo, esse texto pudesse ter alguma repercussão.<br /><br />Ah, se meu blog tivesse alguns milhares de leitores... Ou se, pelo menos, alguém me plagiasse e distribuísse esse texto por e-mail com a falsa assinatura de Jabor, Drummond de Andrade ou Veríssimo... É o tal do quarto poder.<br /><br />Posso ajudar em mais alguma coisa?<br /><br />O Privada Criativa agradece o seu acesso, tenha uma boa noite.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-23098391715381190612009-01-24T12:22:00.003-02:002009-01-24T13:08:04.542-02:00Quando você pede ajuda?Geralmente, quando você não consegue fazer algo sozinho, certo? Em condições normais de temperatura e pressão, é o que as pessoas fazem.<br /><br />O que dizer, então, da recém-destituída-de-hífen “autoajuda”?<br /><br />O prefixo “auto” <em>exprime a idéia de próprio, de si mesmo</em>. Divaguemos: se você pede ajuda a si mesmo e assim consegue resolver o seu problema, você se virou sozinho. Ou seja, não precisava de ajuda nenhuma.<br /><br />No entanto, Augusto Curys e James Hunters da vida enriquecem às custas de indivíduos inseguros que precisam comprar um livro ralo – engordado à base de gramatura de papel e tamanho de fonte aumentados – que lhes diga o que eles já sabem. Não seria este um exemplo de <em>ato de esconder a qualidade de um produto, com objetivo de lucro ilícito</em>? Essa é uma das definições de “fraude”, segundo o UOL-Michaelis.<br /><br />E a enganação não para por aí. Na edição de 23 de janeiro de 2009 do programa Olha Você, do SBT (cópia descarada do Hoje em Dia, da Record), um senhor bem vestido, sentado confortavelmente no rechonchudo sofá do estúdio, ensinava, confiante e eloquente como um pastor, a fórmula do bom-humor matinal a uma carrancuda telespectadora: “Quando acordar, antes de dar bom-dia às outras pessoas, vá até o espelho e deseje bom-dia a você mesma”. O sábio senhor que proferia as inspiradoras palavras era, nada mais, nada menos, que o grande Eduardo Shinyashiki.<br /><br />Neste momento, o leitor adepto à categoria deve estar dirigindo dezenas de palavrões e ofensas a este que vos escreve: “Como é que um mané que se propõe a criticar a autoajuda não sabe nem o nome de um dos grandes gurus brasileiros? Não é Eduardo, pô! É Roberto!”<br /><br />Nananinanão. Desta vez, estimado leitor, não sairá de minha boca nenhum pedido de perdão, pois estou certo. Não era o grande Roberto naquele sofá. Era Eduardo, seu irmão. Mais ou menos a Preta Gil da autoajuda: alguém que se aproveita do sucesso de um parente para tentar emplacar o seu. Sendo Roberto, ele próprio, uma fraude, Eduardo Shinyashiki inaugura uma nova categoria: a fraude juvenil. Simplificando, eu a classificaria como “fraudinha”.<br /><br />Outra perguntinha: você tem um segredo? É claro que sim. Quantas pessoas sabem dele? Bem, tratando-se de um segredo, suponho que ninguém. No máximo, seu melhor amigo e seu terapeuta. Ok, vá lá, seu melhor amigo é meio fofoqueiro. Digamos que cerca de dez pessoas saibam do seu segredinho. Não é um número satisfatório, mas, até certo ponto, aceitável.<br /><br />Agora, conhece algum segredo do qual 4 milhões de pessoas passem a saber em apenas dois meses? Nem uma junta de “comunicadores” composta por Leão Lobo, Sônia Abrão e Nelson Rrrrrrubens conseguiriam essa proeza. Porém, as sessões de “Autoajuda e Desenvolvimento Humano” das livrarias – virtuais ou não – mundo afora, conseguem.<br /><br />O Segredo, de Rhonda Byrne (Ediouro), atingiu a marca de 4 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, apenas 2 meses após seu lançamento oficial. Lançado no Brasil em 2007, o livro está na lista de <em>best-sellers</em> da revista Veja há 87 semanas.<br /><br />Encucado com tamanho sucesso, perguntei-me por quê tantas pessoas leem a obra-prima de Byrne. Curiosidade ou inocência? No site do Submarino, livraria virtual que vende bicicletas, telefones, sofás e até a mãe à milanesa, encontrei a resposta no comentário de um cliente que adquiriu o produto: “Muito bom. Livro que se realmente for lido com fé pode realmente mudar o rumo da sua vida” (sic).<br /><br />Caro amigo, se você ler, com fé, a bula de um poderoso ansiolítico e, com mais fé ainda, mandar o frasco inteiro de comprimidos goela abaixoo, garanto que você muda o rumo da sua vida em menos de dez minutos.<br /><br />A fé funciona. Basta saber no que acreditar.<br /><br />Para terminar, uma dica aos interessados. Oferta imperdível no Submarino: O Segredo, de R$ 39,90 por apenas R$ 15,20.<br /><br />Segredinho barato esse, né? Até perdi a vontade de saber.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-62915371958426099982008-12-08T05:28:00.001-02:002008-12-08T05:29:13.363-02:00À imagemO cheiro era entre coentro e tangerina. A voz, uma mistura de Billie Holiday com Serj Tankian. A cor dos olhos variava do negro ao azul celeste, dependendo da temperatura e da luz. Gostava de poesia de dia e prosa à noite. Era totalmente mutável. Era todos, e ninguém. Bebia água e gasolina. Hoje amava, ainda hoje odiava. Amanhã estava indiferente. Era diamante e algodão. Democrata e republicano, ambidestro.<br /><br />Assim eu me lembro dele, quando me acompanhou durante o coma. Só pediu que eu respeitasse as diferenças e escrevesse seu nome e seus pronomes com letra minúscula.<br /><br />E fiquei mais humilde.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-37687773184691852042008-09-09T02:56:00.001-03:002008-09-09T02:59:02.259-03:00Why so serious?Acabo de assistir <em>O Cavaleiro das Trevas</em>. Puta que pariu. O Heath Ledger tá muito bom. Juro que queria que ele matasse o Batman, o prefeito e o Comissário Gordon (que mais parece o Ned Flanders).<br /><br />O mundo precisa de um pouco de anarquia, de fuzarca, de algazarra.<br /><br />Vamos destruir os radares nas vias públicas, fazer gatos na TV a cabo, levantar a saia da freira e aplaudir o pontapé do Valdívia no Gilberto Silva! Que graça tem fazer a barba, declarar imposto de renda, ser vegetariano e adotar um africano?<br /><br />Até o Galvão Bueno já entendeu o recado. Diz que o Brasil anda jogando “um futebol muito pragmático, né, Falcão?” e manda o Robinho pedalar pra cima deles. O Lula também está fazendo sua parte. Aparece de camiseta e boné na TV, toma sua cachacinha e não está nem aí para a Língua Portuguesa.<br /><br />E o que acontece com eles? Rejeição. O povo quer acabar com os vilões, encarna o Batman chatão e vai para as ruas e para o Orkut gritar “fora Lula” e “eu odeio o Galvão Bueno”. Tá errado.<br /><br />Precisamos de mais rebeldes, sejam eles sem causas ou sem calças. Não ao terno! Sim ao bundalelê!<br /><br />Eu apóio o Coringa para presidente (o Lula pode ser vice). Ele reconhece que é louco, ama o que faz e quer proporcionar um pouco de diversão a todo mundo.<br /><br />Temos que reconhecer que seriedade e responsabilidade não levam a lugar algum. Quer dizer, a um: stress. Vamos levantar a bandeira da loucura, que é mais leve e descontraída.<br /><br />Quer uma prova de que ser maluco é mais legal? O que fez o Heath Ledger quando deixou de ser Coringa? Pois é. Que pena.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-10567311072634290732008-09-08T03:49:00.004-03:002008-09-09T18:57:56.316-03:00Dei pra ouvir bolero.A opção pelo verbo de duplo sentido foi proposital, pois confesso – a despeito das pregas ainda e por toda a eternidade intactas – que sempre achei o bolero um estilo musical no mínimo um tantinho afeminado (o famoso <em>meio gay</em>).<br /><br />Na tentativa de arrancar uma explicação para o recente fato inusitado, investi num mergulho profundo ao meu eu lírico e analisei as possibilidades mais prováveis: estou mais sensível (ui!); estou apaixonado (ai!); estou velho (fudeu!)?<br /><br />Ainda influenciado pelos sites céticos que andei freqüentando ultimamente, resolvi analisar todos os fatores supracitados fria e cientificamente, de modo a ser imparcial e totalmente franco comigo e com meu quase-a-se-comprovar ateísmo. Analisei-os segundo as proposições abaixo:<br /><br />I - da sensibilidade<br />Pergunta: Pode um sujeito sensível não se abalar ao ver a desgraça alheia nas ruas e nos telejornais?<br />Resposta: Ri da queda do Diego Hipolyto e esnobei um pedinte esses dias num boteco da Augusta.<br />Veredicto: Hipótese I derrubada. Definitivamente, não sou sensível.<br /><br />II - da paixonite<br />Pergunta: Pode um sujeito apaixonado ouvir quaisquer outros estilos musicais que não o representado tão romanticamente por Luis Miguel e Cia?<br />Resposta: Minha namorada, a quem eu amo e, por sua vez, também me ama, tem seis tatuagens e canta Cindy Lauper e Patrícia Marx no banheiro.<br />Veredicto: Hipótese II faz certo sentido. Patrícia Marx é quase tão brega quanto Luis Miguel. Ainda assim, hipótese derrubada.<br /><br />III – da maturidade<br />Pergunta: Pode um sujeito jovem não se contentar com a riqueza musical e a abundância de talento apresentadas pelas bandas contemporâneas?<br />Resposta: Não chego a apelar para CPM 22 e Nx Zero, mas aprecio algumas bandas novas e odeio quem sustenta o clichê “não se faz mais músicas como antigamente”.<br />Veredicto: Apesar da queda de cabelo e de lembrar-me do Genius e do Lango-lango, ainda não estou (tão) velho. Hipótese III derrubada.<br /><br />Após a maratona Myth-Busters, a um passo de concluir que minha bolerice (quase confundível com boiolice) era inexplicável, veio-me a luz. Não a azul, proveniente do som do carro que expulsava os primeiros versos de <em>No Me Platiques Más</em> pelos alto falantes, mas a luz do esclarecimento. As razões do fenômeno músico-comportamental eram, na verdade, três: um pen drive barato, excesso de confiança e uma rodovia duplicada vazia.<br /><br />Uma semana antes, no Paraguay, paraíso dos importados para os desprovidos de 25 de Março que moram no Mato Grosso do Sul, perguntei a uma simpática vendedora quanto custava aquele <em>state-of-the-art</em> pen drive de 16 gigabytes. “En reales sale por ochenta y cinco, señor”. Como diria Armando Volta, comprei-o-o.<br /><br />Já em casa, conectei-o-o ao laptop e carreguei-o-o com 16 giga de músicas modernas e descoladas. Estava eu preparado para minha viagem a São Paulo que faria no dia seguinte. Senti-me um explorador salvaguardado por seu canivete suíço. Pluguei o dito cujo ao som do carro e parti rumo à minha aventura.<br /><br />Chegando a Água Clara, o pen drive pifou. Merda. Depois de uma longa e mal sucedida tentativa de ajeitar-me com as rádios, e de condenar-me pela burrice de confiar tanto na minha maravilha tecnológica adquirida nas bandas do “la garantia soy yo”, iniciei a busca por algo que me salvasse do martírio de dirigir sozinho pela Marechal Rondon. Pista duplicada, sem defeito, sem outros carros, sem curvas. Sem som.<br /><br />Eis que abaixo o quebra-sol e, naquele porta-CDs que ninguém lembra que tem, nem mesmo na hora de tirar as bugigangas do carro antes de deixar no lava-jato, lá estava ele. Não era o Chapolim Colorado, mas era o que poderia, com não tanta astúcia, me defender naquele instante: o CD de boleros da minha mãe.<br /><br />Esta, simples assim, é a explicação sobre como comecei a ouvir bolero. Só falta descobrir agora por que continuei. Talvez seja a idade. Talvez a paixão. Ou, vá lá, talvez eu esteja um pouco sensível.<br /><br />Ah, já ouviu aquela ótima que começa assim “<em>La puerta se cerró detrás de ti.</em>..”? Eu até choro. De amor, meu velho.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-54368322133968656012008-08-28T13:26:00.002-03:002008-08-28T13:31:15.565-03:00Orgulho de ser brasileiro?A equipe brasileira de futebol feminino desembarcou em São Paulo recebida por fãs elogiando a prata conquistada em Beijing. Ou seria criticando o ouro perdido?<br /><br />A expressão da vez na nossa criativa e originalíssima mídia é “preparo psicológico”. Os meninos do vôlei de praia, as meninas da ginástica (inclui-se aí aquela que caiu sentada), os judocas, a todos faltou preparo psicológico para não amarelar no final.<br /><br />Mas alguém falou disso ANTES das olimpíadas?<br /><br />Brasileiro tem mania de arrumar desculpas para os fracassos. Durante o Pan 2007, todos heróis. Um ano depois, piadinhas na internet dizendo que o Brasil consegue mais bronze que bronzeamento artificial. Idolatraram o Thiago Pereira e o João Derly para depois enrabá-los em rede nacional. A Jade, coitada, daquele tamanho, deve ter doído. Cada hora um repórter encontra um país de nome mais estranho para dizer que está à frente do Brasil no quadro de medalhas.<br /><br />Aí, depois da sessão mete-o-pau, é hora daquelas duas palavrinhas que ficam cada vez mais comuns: encontrar uma desculpa, mas também um culpado. A desculpa: falta de preparo psicológico. O culpado: o governo (de novo), por não dar o incentivo necessário aos atletas. Interessante, não? Ambas as palavras derivadas de uma só, a mais importante: culpa.<br /><br />A culpa é do Bradesco, que deu um caminhão de dinheiro pro Thiago Pereira, e sequer sabia quem era César Cielo, porque precisava patrocinar um ídolo que desse resultado imediato entre o Pan e as Olimpíadas? E você, sabia quem era o “Cielão”, agora tão íntimo dos cidadãos brasileiros?<br /><br />A culpa não é só do governo, não é só do Bradesco, nem dos CRPDs (Conselho Regional de Psicologia Desportiva, se isso existisse) do Brasil. É de todos nós. Somos imediatistas, preguiçosos e desinteressados. Ninguém se interessa pela Superliga de Vôlei, pelo Troféu Brasil de Atletismo ou pelos Jogos da Primavera da escola do Juninho. Mas quando chegam as Olimpíadas, procuramos desesperadamente um grande ídolo que faça o Brasil superar a Argentina no número de medalhas.<br /><br />Esperamos mais um fracasso da seleção feminina para cobrar da CBF um campeonato nacional para as meninas, mas durante o ano só temos olhos para a UEFA Champions League na ESPN e, quando dá, damos uma olhadinha no campeonato brasileiro (de homens). Tudo bem, esse ano tem uma exceção deliciosa na Série B, que agora infelizmente não vem ao caso.<br /><br />No Brasil, falta planejamento, dedicação. Falta entender que entre uma Olimpíada e outra, entre uma eleição e outra, existem alguns anos. E a cada ano olímpico, a cada ano eleitoral, vemos na mídia as mesmas estórias de sempre. E o mais triste, sem perspectiva alguma de mudança.<br /><br />Michael Phelps é supercampeão. Michael Schumacher já foi. E a nossa Maicon, junto com o resto da seleção feminina? Como diria o Capitão Nascimento, “nunca serão”.<br /><br /><em>*Fabiano Battaglin é brasileiro e não desiste nunca.</em>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-66334051651466860192008-04-09T20:18:00.001-03:002008-04-09T20:19:32.567-03:00Guia do racional contraditórioVentilai as consciências, vossas damas interiores.<br /><br />Tende controle sobre vossos apetites e paixões.<br /><br />Sede austeros em vossas decisões.<br /><br />Racionalizai-vos.<br /><br />Mas amai.Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-13502563179524697082008-03-24T14:52:00.002-03:002008-04-09T20:46:14.095-03:00Back 2 net<p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;">Após um não-tão-breve-quanto-eu-gostaria período de exclusão digital, volto com força total. Mais honesto e sincero, devido ao mais extenso tempo livre dedicado a divagações, confesso que esse texto já estava pronto antes mesmo do técnico comparecer ao meu recinto para o restabelecimento do sinal. Claro, minha inspiração não vem de fatos, mas de doses. E quem garantiria que ao retorno da internet estaria eu sob efeito alcoólico? Não custa prevenir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;">Foi bonito. Tive mais tempo para ler, dormir, comer e beber. É impressionante o tempo que a checagem de e-mails, scraps e o download do último álbum do Hot Chip nos toma. O que será que as pessoas faziam na remota década de 90, quando ainda não existia a <span style="font-style: italic;">worldwide web</span>? Minha avó paterna plantava morangos, a materna fazia palavras cruzadas da Coquetel. Meu pai tinha um caso com a secretária (resultado: tenho um irmão 3 meses mais velho que eu), minha mãe fumava 2 maços de Free longo por dia (não que isso tenha diminuído quando instalaram a internet lá <st1:personname productid="em casa. Piorou" st="on">em casa. Piorou</st1:personname>), e eu... o que eu fazia?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;">Lembro que tinha 14 anos. “Nossa, é muito melhor que as BBS!” Você, caro leitor, mimado por googles e orkuts, não deve saber o que é uma BBS. Não que eu seja velho, apenas tecnologicamente iniciado um pouco antes do resto de meus convivas. Montei até um site. Fazia gifs animados usando o Paint Brush a bordo do meu 486 DX2 66, ficava impressionado quando o Netscape conseguia carregar uma foto, acessava o mIRC sob o codinome Morrisson (sim, com dois S, pseudo-fã do The Doors, não sabia nem a grafia correta do nome do Jim, coitado), passava tardes e noites no ICQ e dormia nas aulas pela manhã. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;">A internet roubou parte da minha transição infância-adolescência. Parei de soltar pipa e jogar bola. Engordei (adoro arrumar desculpas pra minha fome fora do comum). Felizmente, hoje sou um homem mudado. Já não dependo do número de scraps ou e-mails para saber que sou querido e popular. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;">Bem, depois eu continuo esse texto. Vou abrir minha caixa de e-mails.<o:p></o:p></span></p>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-45972311293303967652008-02-09T14:40:00.000-02:002008-02-09T22:46:37.952-02:00Carta que qualquer mulher sonha receber de um homem*<p class="MsoNormal"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Eu já sabia, mesmo antes de tentar, que a tentativa seria nula. Não te doarias muito mais que eu, mesmo a minha doação sendo agora consciente, portanto, ínfima. Mas, insinuante, me fizeste acreditar que eram promessas aqueles jogos de solidão que descontavam teus ciúmes e a tua insegurança. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Encarando tuas bochechas frias e teus olhos vagos, lutando contra minha vontade de fugir, hoje, totalmente teu, aqui confesso: prefiro jogar teus jogos a praticar qualquer esporte individual.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.9pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Assim como falei àquele samba que guardei no bolso da minha camisa azul xadrez, escrito em comprovantes de venda a débito, composto dentro de três doses de Claudionor, e mais que o triplo das de Original ou outra qualquer:</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.9pt;"><span style="font-size:100%;"><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">“Meu amor é uma puta<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Que se vende ao primeiro olhar teu.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Teu amor raso, sem promessas,<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">No máximo de insinuações.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Não sei se me vendo ou me rendo,<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Pois teu amor não vale nada.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">E eu te compro mesmo assim.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Te compro caro,<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Me vendo por nada,<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Mas jogo teus jogos <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">De brincar de ser teu.”<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.9pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.9pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.9pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">Um dia eu almejei um teu abraço como um meu, com amor e com sabor, e uma certa iniciativa.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-right: 0.9pt;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Verdana;">E, burro, ainda te amo. Vem.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0.9pt 0.0001pt 13.85pt;"><span style="font-size:100%;"><b><span style="font-family:Verdana;"><o:p> </o:p></span></b></span></p> <p class="MsoNormal"><span style=";font-family:Verdana;font-size:11;" ><span style="font-size:100%;"><o:p> </o:p><br /><span style="font-style: italic;">*Para descontar as noites de Cosmopolitan e lágrimas que nós, homens – sim, nós sabemos – as fazemos passar.</span></span><o:p></o:p></span></p>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-37768643.post-5155318602509766992007-12-14T19:52:00.001-02:002008-12-02T21:20:22.195-02:00Da série “Delícias de morar em Sampa”<p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;font-size:100%;">O que você faz num fim de tarde de sexta-feira, quando sai do trabalho? Toma uma gelada num boteco? Pega um cineminha? Vai ao shopping? <?xml:namespace prefix = o /><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;font-size:100%;">Hoje eu ouvi jazz. Tá. E daí? Bom, eu ouvi jazz em baixo do Obelisco dos Heróis de 32. Hã? Sim. Em baixo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;font-size:100%;">Sexta-feira, 19h05. Você fica feliz porque acabou o trampo. Mas fica triste porque vai ter que enfrentar algo talvez mais estressante do que o trabalho: o trânsito de São Paulo. Com um agravante: é sexta-feira. Mais um: está chovendo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="font-family:Verdana;font-size:100%;">Entro no túnel Ayrton Senna. </span><span style="font-family:Verdana;font-size:100%;">Dá vontade de abrir a janela e perguntar pro motorista ao lado onde é o enterro. Parece mais cortejo aquela fila de carros vagarosamente se arrastando um atrás do outro. E vejam só o disparate que a CET ainda tem a coragem de fazer: as placas dizem que a velocidade permitida é de 70km/h. Como se alguém conseguisse passar dos 20! Daqui a um tempo ao invés de velocidade permitida, as placas indicarão a velocidade possível. Mas, antes o ritual fúnebre ao que ocorre depois: tudo pára. Olho para cima, e vejo a placa indicando o que está sobre mim, no parque Ibirapuera. Obelisco dos Heróis de 32. Ok, mas para que saber o que tem ali, se eu não posso ver? Faz tanto sentido quanto aquelas perguntas do tipo “por que o Pato Donald sai do banho enrolado na toalha, se ele não usa calças”? Agravante número 3: dentro do túnel não pega rádio. 4: nem celular. Abro o porta-luvas, e lá está a salvação. Um CD do Herbie Hancock. Só assim para me acalmar um pouco. E fiquei ali, no conforto do meu carro popular sem ar-condicionado, ouvindo um jazz de qualidade. Só faltou um Jack Daniels e um charuto pra deixar minha sexta-feira perfeita.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;font-size:100%;">Moral da história: sempre tenha um CD de jazz dentro do carro nas sextas-feiras chuvosas de São Paulo. Ah, de preferência com mais de 7 músicas. Minha alegria durou pouco.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family:Verdana;font-size:11;"><span style="font-size:100%;">Como diria uma canção do LCD Soundsystem, adaptando só o nome da cidade: “São Paulo I love you, but you’re bringing me down”.</span><o:p></o:p></span></p>Fabiano Battaglinhttp://www.blogger.com/profile/15683225922202174755noreply@blogger.com4