terça-feira, setembro 9

Why so serious?

Acabo de assistir O Cavaleiro das Trevas. Puta que pariu. O Heath Ledger tá muito bom. Juro que queria que ele matasse o Batman, o prefeito e o Comissário Gordon (que mais parece o Ned Flanders).

O mundo precisa de um pouco de anarquia, de fuzarca, de algazarra.

Vamos destruir os radares nas vias públicas, fazer gatos na TV a cabo, levantar a saia da freira e aplaudir o pontapé do Valdívia no Gilberto Silva! Que graça tem fazer a barba, declarar imposto de renda, ser vegetariano e adotar um africano?

Até o Galvão Bueno já entendeu o recado. Diz que o Brasil anda jogando “um futebol muito pragmático, né, Falcão?” e manda o Robinho pedalar pra cima deles. O Lula também está fazendo sua parte. Aparece de camiseta e boné na TV, toma sua cachacinha e não está nem aí para a Língua Portuguesa.

E o que acontece com eles? Rejeição. O povo quer acabar com os vilões, encarna o Batman chatão e vai para as ruas e para o Orkut gritar “fora Lula” e “eu odeio o Galvão Bueno”. Tá errado.

Precisamos de mais rebeldes, sejam eles sem causas ou sem calças. Não ao terno! Sim ao bundalelê!

Eu apóio o Coringa para presidente (o Lula pode ser vice). Ele reconhece que é louco, ama o que faz e quer proporcionar um pouco de diversão a todo mundo.

Temos que reconhecer que seriedade e responsabilidade não levam a lugar algum. Quer dizer, a um: stress. Vamos levantar a bandeira da loucura, que é mais leve e descontraída.

Quer uma prova de que ser maluco é mais legal? O que fez o Heath Ledger quando deixou de ser Coringa? Pois é. Que pena.

segunda-feira, setembro 8

Dei pra ouvir bolero.

A opção pelo verbo de duplo sentido foi proposital, pois confesso – a despeito das pregas ainda e por toda a eternidade intactas – que sempre achei o bolero um estilo musical no mínimo um tantinho afeminado (o famoso meio gay).

Na tentativa de arrancar uma explicação para o recente fato inusitado, investi num mergulho profundo ao meu eu lírico e analisei as possibilidades mais prováveis: estou mais sensível (ui!); estou apaixonado (ai!); estou velho (fudeu!)?

Ainda influenciado pelos sites céticos que andei freqüentando ultimamente, resolvi analisar todos os fatores supracitados fria e cientificamente, de modo a ser imparcial e totalmente franco comigo e com meu quase-a-se-comprovar ateísmo. Analisei-os segundo as proposições abaixo:

I - da sensibilidade
Pergunta: Pode um sujeito sensível não se abalar ao ver a desgraça alheia nas ruas e nos telejornais?
Resposta: Ri da queda do Diego Hipolyto e esnobei um pedinte esses dias num boteco da Augusta.
Veredicto: Hipótese I derrubada. Definitivamente, não sou sensível.

II - da paixonite
Pergunta: Pode um sujeito apaixonado ouvir quaisquer outros estilos musicais que não o representado tão romanticamente por Luis Miguel e Cia?
Resposta: Minha namorada, a quem eu amo e, por sua vez, também me ama, tem seis tatuagens e canta Cindy Lauper e Patrícia Marx no banheiro.
Veredicto: Hipótese II faz certo sentido. Patrícia Marx é quase tão brega quanto Luis Miguel. Ainda assim, hipótese derrubada.

III – da maturidade
Pergunta: Pode um sujeito jovem não se contentar com a riqueza musical e a abundância de talento apresentadas pelas bandas contemporâneas?
Resposta: Não chego a apelar para CPM 22 e Nx Zero, mas aprecio algumas bandas novas e odeio quem sustenta o clichê “não se faz mais músicas como antigamente”.
Veredicto: Apesar da queda de cabelo e de lembrar-me do Genius e do Lango-lango, ainda não estou (tão) velho. Hipótese III derrubada.

Após a maratona Myth-Busters, a um passo de concluir que minha bolerice (quase confundível com boiolice) era inexplicável, veio-me a luz. Não a azul, proveniente do som do carro que expulsava os primeiros versos de No Me Platiques Más pelos alto falantes, mas a luz do esclarecimento. As razões do fenômeno músico-comportamental eram, na verdade, três: um pen drive barato, excesso de confiança e uma rodovia duplicada vazia.

Uma semana antes, no Paraguay, paraíso dos importados para os desprovidos de 25 de Março que moram no Mato Grosso do Sul, perguntei a uma simpática vendedora quanto custava aquele state-of-the-art pen drive de 16 gigabytes. “En reales sale por ochenta y cinco, señor”. Como diria Armando Volta, comprei-o-o.

Já em casa, conectei-o-o ao laptop e carreguei-o-o com 16 giga de músicas modernas e descoladas. Estava eu preparado para minha viagem a São Paulo que faria no dia seguinte. Senti-me um explorador salvaguardado por seu canivete suíço. Pluguei o dito cujo ao som do carro e parti rumo à minha aventura.

Chegando a Água Clara, o pen drive pifou. Merda. Depois de uma longa e mal sucedida tentativa de ajeitar-me com as rádios, e de condenar-me pela burrice de confiar tanto na minha maravilha tecnológica adquirida nas bandas do “la garantia soy yo”, iniciei a busca por algo que me salvasse do martírio de dirigir sozinho pela Marechal Rondon. Pista duplicada, sem defeito, sem outros carros, sem curvas. Sem som.

Eis que abaixo o quebra-sol e, naquele porta-CDs que ninguém lembra que tem, nem mesmo na hora de tirar as bugigangas do carro antes de deixar no lava-jato, lá estava ele. Não era o Chapolim Colorado, mas era o que poderia, com não tanta astúcia, me defender naquele instante: o CD de boleros da minha mãe.

Esta, simples assim, é a explicação sobre como comecei a ouvir bolero. Só falta descobrir agora por que continuei. Talvez seja a idade. Talvez a paixão. Ou, vá lá, talvez eu esteja um pouco sensível.

Ah, já ouviu aquela ótima que começa assim “La puerta se cerró detrás de ti...”? Eu até choro. De amor, meu velho.