terça-feira, novembro 13

Toca Raul

O maior incômodo para quem toca algum instrumento musical (leia-se, em 90% dos casos, violão) são os pedidos que interrompem o valioso repertório do caboclo.

“Toca aquela que fala de amor”, ou “você sabe aquela... daquele cantor... que toca na novela?” são algumas das encomendas comuns em qualquer barzinho ou rodinha de violão despretensiosa no aniversário da Isa, da Ju ou da Nati. “Pô, ninguém trouxe CD bom? Toca aí então, César”.

Agora que comecei a divulgar o blog, começaram os pedidos. Ontem, um amigo sugeriu um texto sobre as coisas da infância de que sentimos saudades. Das coisas das quais reclamávamos outrora e que hoje daríamos tudo para ter de novo.

Gostei da idéia, mas resolvi dar uma de cantor estrelinha e escrever um texto camuflado. Afinal, eles sempre reclamam do pedido, dizem que vão “ficar devendo essa”, afinam o violão e tocam uma parecida. Não dão o braço a torcer, mas também não querem desagradar o cliente ou perder a ajuda do amigo na hora do refrão.

Pois, quando fazia uma análise saudosa e retrospectiva de minha não tão longínqua infância, reparei que me recordo apenas de momentos no mínimo estranhos: eu no colo do Hélio na chácara do meu avô, durante uma reunião política do Lúdio Coelho; eu a bordo de um táxi em Piracicaba, rindo do sotaque do motorista ao pronunciar interioranamente a palavra padarrrria; eu contando uma piada-pegadinha para o Doutor Luiz Antônio, chefe do meu pai; eu no bondinho, espalmando as mãos contra as coxas, demonstrando toda minha evidente ansiedade antes de entrar no clube para a formatura do pré-escolar (e o medo da valsa?).

Porém, tais lembranças não suscitaram vontade alguma de retornar a esses lindos e lúdicos momentos. Optei por não escrever sobre eles, nem mesmo relatá-los.

A única coisa que cutucou minha espinha foi um sonho que não realizei: comprar uma Pampa azul e sair pela cidade batendo em todos os carros e derrubando os edifícios da Avenida Afonso Pena. É incrível o que acontece com um ser humano quando não atinge os sonhos almejados. Hoje eu sou assim.

Na verdade, eram dois sonhos. O outro, era ter talento suficiente para ser um músico genial e atender pedidos numa roda de violão. Mas isso seria muito difícil, é pra poucos que nascem com um dom. Então, resolvi criar um blog.


*Fabiano Battaglin, hoje com 24 anos, é apenas um blogueiro despretensioso esperando por pedidos que não serão atendidos. Ouviu, Tiago?

5 comentários:

Nanda Coelho disse...

Toca Black, do Pearl Jam, pleaseeeeeeeee!!!!

Anônimo disse...

liga não cara, se sua infância foi uma merda a culpa não é sua... mas gostei da idéia da pampa azul... rs

Anônimo disse...

Depois de "toca Raul" acho que a mais pedida é o More Than Words, do nosso glorioso amigo César rsrsrs... bjooo

Anônimo disse...

nunca é tarde pra começar... se vc quiser eu ajudo na grana pra comprar a pampa azul.

Anônimo disse...

Mto bom o texto e a criatividade to me acabando de rir da pampa azul detonando na afonso pena kkkk
Valeu a homenagem a ideia