quinta-feira, novembro 8

Os pombos somos nozes

Hoje, num intervalo de alguns minutos, vi alguns casais de pombos.

Não os pombos aves, ratos de asas, extremamente habilidosos e ágeis na arte de não serem atropelados, por mais de supetão que se lhes aproxime.

Vi os pombos figurativos, mais usados no diminutivo, apaixonados, que se “asasam” loucamente pelos cantos de qual for o recinto em que se encontrem. Explico: se “abraçar” significa apertar ou rodear com os braços (obrigado, Sr. Aurélio), “asasar” seria, numa definição livre, apertar ou rodear com as asas. Óbvio, não? Não sou poeta, mas tenho a licença.

Neologias à parte, passemos ao que interessa. Pois bem, ao subir as escadas rolantes da estação São Judas, da linha azul (na verdade não se sobe escadas rolantes; é-se subido), avisto o primeiro casal de apaixonados. Lá estavam os pombinhos, amalgamando-se no canto mais canto da estação. Corrijo-me: a fêmea em questão não era tão inha assim. Obesidade quase mórbida. Bem, possível explicação para o amasso escondido lá no cantinho. O cara devia estar envergonhado. Segui meu caminho.

Saio da estação, viro à direita e sigo pela Avenida Jabaquara. Já quase na esquina com a Indianópolis, ali no ponto onde alguns pegam o Jardim Miriam, outros, o Aeroporto Via Miruna, vejo uma cena curiosa: três casais de pombinhos se “asasando” e se beijando. Não, não é exagero. Escrevo aqui os dígitos e por extenso: 03 (três) casais de enamorados indivíduos na plena efervescência do amasso. Reconheço que às vezes sou um exageródromo. Utilizo-me de linguagem caricata e dados fictícios de modo a ilustrar meu ponto de vista e persuadir o leitor. Mas, desta vez, acredite, os dados são fidedignos.

Era praticamente uma suruba no pombal. Pensei eu que uma onda de amor havia inundado a terra da garoa. Já me imaginei na propaganda da Coca-cola, transferida para as ruas paulistanas, nenhum cidadão estressado ou buzinando, todos dançando ao som de “you give a little love, and it all comes back to you”. Doce ilusão. Após um breve momento de reflexão, matei a charada e descobri que, de amor, aquilo não tinha nada.

Percebi o quão efêmeros eram aqueles relacionamentos. Completamente fugazes. Na atual conjuntura amorosa do país – e do mundo –, comprometimento é a última coisa que passa pelas cabeças-de-pombo que se engajam com alguém do sexo oposto. Relações breves, sem significado, sem obrigações, sem compromisso.

E entendi, então, que todos os casais naquela tarde chuvosa de novembro estavam posicionados estrategicamente. Alguns no ponto de ônibus, outros na estação do metrô. Exatamente onde tudo é passageiro.

*Fabiano Battaglin está muito satisfeito com seu relacionamento estável e perene. E caso esse texto seja algum dia lido no Programa do Jô, desculpa-se desde já pela discriminação para com os obesos mórbidos.

9 comentários:

Priscila Gemballa disse...

Gostei da associação do transporte com o sentimento!
Hoje os relacionamentos são bem superficiais, muito mais carne do que sentimento!
Amor é igual gripe, vc pega e logo passa!

bjs

Unknown disse...

Uma breve crise de melancolia tomou conto do autor, digo quse entrando em estágio de romantismo ao ver os casais...opa passou...a frieza de grande sao paulo e cor cinza da cidade o fez voltar a ser....
hahahaha....
Beijos...

Anônimo disse...

cara.. nunca vi tanta merda em forma de texto!! rs

Anônimo disse...

clap clap clap pra vc, fabis! muito bom!
bjoo

Paula Hill disse...

eh, nessa vida tudo é passageiro, menos o motorista e o cobrador...

q coisa, não?

Dona Marilda disse...

Concluo essa historinha de outra maneira- a intenção do diminutivo não é refletir desprezo.
Eu acredito nos encontros superficiais! (vou fazer camisetas e vender na Av. Paulista).
Aqueles casinhos por uma noite, fazem partes de uma nova história,
uma nova experiência. No tempo curto dos relacionamentos, não há tempo para decepção,
para tristezas, para discutir relação.
A discussão do novo casal é assunto livre...
é viva a liberdade de se amar todos os dias, e se não for amor?!
viva a putária!

Nanda Coelho disse...

É...
Têm muitos pombos pela cidade de SP!

Anônimo disse...

Mto bom, baguá!

Gabriel Menezes disse...

me peguei rindo no texto.

não há sinal melhor.