terça-feira, abril 6

No me importa, señor.

Adriana, Alessandra, Aline, Arnaldo...

A lista de chamada era sempre comprida. Cumprida invariavelmente até o final, todo santo dia - e mais ainda nos dias infernais - com uma monotonia maldita que esbarrava nos ouvidos recém-despertos, a declamação em ordem alfabética feita pela "tia" tornava fácil, através da repetição, a tarefa de decorar o nome de todos os coleguinhas da sala, por mais que se realizasse em um horário em que nem todos os sentidos estavam perfeitamente aguçados.

Naquela época, eu associava os nomes a características físicas ou comportamentais que, a meu julgar, diziam tudo sobre a pessoa em questão. Alessandra era a gordinha da lancheira cor-de-rosa que, embora sentasse seu imenso traseiro na primeira fileira, não entendia bulhufas na aula de matemática. Ricardo, sempre o primeiro a chegar à quadra de futsal quando soava o sinal para o recreio, tinha suas inconfundíveis bochechas rosadas sempre salpicadas de gotículas de suor.

Nomes, principalmente no início de nossa vida em sociedade, significam muito. Meu irmão, aos quatro anos de idade, na tentativa de evitar uma desastrosa formação de caráter provocada por um equívoco no momento de escolha das poucas letras que acompanham o sujeito até o fim de seus dias, interpelou assertivamente meu pai, que decidira-se por batizar-me Fábio, protestando: "Como assim? Fábio, não. Fábio é chorão, eu quero Fabiano".

Não creio que a fraterna intervenção tenha sido decisiva na contenção das lágrimas que de meus olhos desabam, embora, para ele, aquilo fizesse o maior sentido do mundo. Talvez houvesse um coleguinha chamado Fábio que chorava sempre que sua mãe o deixava na escola. Quem sabe, um filme da Temperatura Máxima tivesse como protagonista um personagem de mesmo nome que abria o berreiro por motivos bobos. 

Mesmo entre os adultos, quem nunca conheceu uma pessoa de vista e, ao saber seu nome, decepcionou-se completamente? "Pôxa, você não tem cara de Eustáquio". O ponto é que automaticamente associamos nomes a características, qualidades, defeitos. Godofreda não pode ser o nome da deliciosa morena de 22 anos que debruça todo seu charme decotado sobre minha mesa do escritório quando precisa da minha rubrica. De jeito nenhum!

Existe alguma experiência, visão ou impressão que fica guardada em um lugar qualquer de nosso cérebro que é imediata e automaticamente associada a um nome quando o lemos ou ouvimos, provocando sensações boas ou ruins. A boa (ou má) notícia é que essa associação pode ser forjada ou alterada através de alguns meios naturais, e outros não tão ortodoxos.

Um exemplo histórico vem bem a calhar: na China comunista de meados do século XX, o culto à personalidade do "Grande Líder", através de massiva propaganda e repressão, fez com que o nome de Mao fosse adorado pela esmagadora maioria da população daquele país. Algo que, para nós, parecia do mal - menos pela semelhança fonética entre "Mao" e "mau" do que pelos constantes alertas sobre o perigo vermelho em nossas terras -, para eles era motivo de orgulho e veneração.

Por aqui, um fumante de hábitos grosseiros que coçava as partes íntimas em público, o operário e sindicalista cheio de ódio ganhou um sufixo diminutivo, paz e amor. Junto, veio a aprovação. Os ternos Ricardo Almeida e as menções ao time de futebol do coração mudaram completamente a imagem associada a um simples nome de duas sílabas, hoje simpático: Lula.

O perigo das associações automáticas pode ser evitado aplicando-se uma análise racional de propostas, intenções, histórico e caráter de qualquer pessoa ligada a um nome. Afinal, passou-se o tempo em que Luiz era apenas o gordinho carismático lá do fundão, que o professor chamava de “o cara”.

Para finalizar, um exercício: o que lhe vem à cabeça quando você lê o nome “Dora”? Uma babá carinhosa? Uma saudável jogadora de vôlei? A amável cozinheira do refeitório da faculdade? Pois bem, sabe qual era o nome da arma de artilharia nazista mais potente da II Guerra Mundial? Pois é, “Dora” era como nosso querido Adolf chamava seu brinquedinho de destruição.

Mais uma: que tal “Dilma”? Bom, essa eu deixo para você.

7 comentários:

Alice disse...

E Alice? =)

carolina fiuza disse...

Eu achei que seu nome fosse Fabiano por causa do Vidas Secas, viajei... Adorei o titulo.

Fabiano Battaglin disse...

Alice é uma menina meio lúdica, sonhadora, wonderland... Hehehe. E linda!

Fabiano Battaglin disse...

Bem, bem, eu às vezes fico cabreiro e arrasto meu chapéu no chão, mas a razão de meu nome é sugestão de meu irmão.
E, ultimamente, a vida aqui no Rio não anda nada seca, Carol.

Anônimo disse...

"Alice disse..."
Hehe! Igual o nome da loja.

Naná Bia disse...

E eu fico aqui pensando: o que as pessoas pensam quando ouvem NAIDELEA BEATRIZ??? Que merda!

Fabiano Battaglin disse...

Realmente, Naná é mais meigo. Não que isso tenha alguma coisa a ver com você, é óbvio.