quinta-feira, outubro 29

O passado


CHUBBY SWINGER KID
Upload feito originalmente por BIGAWK



A partir de hoje, vou procurar ilustrar os textos com fotos bacanas que encontro nas minhas andanças pelo Flickr. Deixo claro que os autores estão indicados logo abaixo das fotos/desenhos/ilustrações. Não deixa de ser um incentivo aos direitos autorais num mundo virtual quase sem leis, onde qualquer texto é do Jabor, do Veríssimo ou do Quintana e o trabalho de fotógrafos e artistas é ignorado.

Para inaugurar, um desenho genial que me faz voltar à minha infância robusta e corada. Swing, chubby boy!

segunda-feira, outubro 19

Realidades da economia e da política explicadas por fábulas(?) virtuais

Se o mercado de virtual estate americano entrasse em crise hoje, o Brasil só sentiria uma “marolinha”. Mesmo após a quebra do Facebook Brothers, o país se recuperaria muito mais rapidamente do que seus concorrentes. Afinal, brasileiro é atrasado e só usa Orkut.

O pré-sal é o Orkut do Brasil. Enquanto outros países tuítam novas formas de energia renovável, o governo Lula resolve mandar scrap.

Obama fez uma bruta campanha usando o twitter como ferramenta de comunicação direta com os eleitores. Alguns meses depois, a Petrobras monta um blog como mecanismo de intimidação para dificultar o trabalho da imprensa.

E ainda tem gente pessimista que diz que o Brasil será eternamente o país do futuro.

terça-feira, outubro 6

O último nostálgico

Enquanto na fila para assistir ao enésimo filme no Festival do Rio, vejo Arnaldo Jabor saindo da sessão anterior. Surpreendo-me, menos por tietagem do que pela aparência acabada do grande e exemplar escritor-cineasta-cronista-crítico brasileiro.

Na qualidade de ex-integrante de uma comunidade de rede social dedicada a ele, senti-me na obrigação de observá-lo por alguns instantes. Elogiei mentalmente a equipe de maquiadores da Globo, que habilmente disfarça a avançada idade que Arnaldo deixa transparecer numa despretensiosa sessão de cinema de segunda-feira. Aquelas marcas de expressão trouxeram-me a explicação para a partícula “ex” anexada ao substantivo “integrante”, na frase que inicia este parágrafo. De uns tempos para cá, as crônicas de Jabor me vinham fatigando. As doses exacerbadas de sua visão nostálgica pulverizaram de tédio não só seus textos, mas também minha admiração por ele, iniciada há alguns anos, quando minha primeira sogra presenteou-me com um de seus livros.

Sempre fui um crítico contumaz da nostalgia. Ouvia desconfiado, desde cedo, os tios contando vantagens de sua mocidade. “Eu, na sua idade, não estava na barra da saia de mamãe pedindo doce. Estava jogando bola, correndo, era o melhor lateral-direito do bairro”. Reprovava os amigos bêbados de meu pai que diziam “pegar as mais gatas da faculdade, ir a todas as festas e ainda tirar notas boas”. Não dava ouvidos nem ao meu avô, que afirmava que “no governo Vargas, isso não acontecia”.

A nostalgia é a porção otimista de um retrovisor multifocal que aumenta ou diminui o que passou, dependendo do ângulo pelo qual é olhado.

Sempre acreditei – ou tentei acreditar – que o melhor momento de nossas vidas é agora. Meu escapismo romântico me leva aos sonhos, não ao passado. Quem sabe, um pouco ao futuro.

Enquanto observava Jabor indo embora, notando seus cabelos para lá de grisalhos e seu modo já ineficiente de caminhar, imaginei-me daqui a quarenta ou cinqüenta anos.

Ao ler os velozes grunhidos dos usuários da mais nova ferramenta de comunicação e informação, vagos, rasos e fugazes, eu olharia para o espelho, para minhas rugas, buscaria um ângulo mais favorável e diria: “não se fazem mais escritores-cineastas-cronistas-críticos como os de antigamente”.

quinta-feira, outubro 1

ENEM? Nem.

O que o Exame Nacional do Ensino Médio e a Gillette têm em comum? Aparentemente, diria alguém desavisado, nada. Porém, ao se analisar minuciosamente os acontecimentos dos últimos meses, pode-se perceber que há grande conexão.

Em agosto deste ano, a Gillette lançou na internet um simulado do novo ENEM (www.mach3apostaemvc.com.br), para que os estudantes pudessem testar seus conhecimentos e se preparar para a prova, que ocorreria nos dias 3 e 4 de outubro. À primeira vista, a ação, comumente praticada apenas por empresas diretamente ligadas à educação, como escolas, cursos pré-vestibular e veículos de comunicação direcionados a estudantes, não fazia muito sentido. Entretanto, um olhar mais atento às práticas contemporâneas de marketing revela uma excelente estratégia por parte da marca de lâminas de barbear. A intenção da Gillette era trabalhar sua imagem junto a um público jovem que poderia comprar seus produtos durante um longo período. Afinal, cerca de 50% dos inscritos na prova passará o resto da vida fazendo a barba, enquanto a outra metade poderá utilizar os produtos em pernas, axilas e outras partes do corpo que julgue necessário.

A idéia de fidelizar uma grande parcela da sociedade, no entanto, não foi apenas da Gillette. Na verdade, esta apenas aproveitou-se de uma tática populista e eleitoreira engenhada pelo governo federal e pelo PT, aplicada pelo MEC e sua cabeça pensante, na figura do ministro Fernando Haddad (que, dizem, pleitearia um cargo executivo ou legislativo no ano que vem). A instituição resolveu, no primeiro semestre de 2009, mudar o sistema de seleção de candidatos a vagas nas universidades brasileiras, sob o pretexto de facilitar a vida dos estudantes que, segundo as justificativas do ministério, gastavam tempo e dinheiro excessivos para poder participar dos processos seletivos de várias universidades por todo o país. A proposta era unificar os vestibulares em uma só prova, que foi pintada como a solução para os problemas dos jovens brasileiros – principalmente os de classe mais baixa: o todo-poderoso novo ENEM.

A detecção dos problemas foi eficaz. A proposta de intervenção seria eficiente, caso não falhasse em vários aspectos, dos quais enumeram-se apenas alguns a seguir:

1 – planejamento e respeito aos trâmites de adaptação dos alunos e das instituições de ensino médio foram ignorados;

2 – várias das universidades públicas não aderiram à unificação dos processos seletivos;

3 – a maioria das universidades que aderiram utilizará o ENEM apenas como parte de seu processo de seleção, mantendo a segunda fase do processo no modelo tradicional e, em alguns casos, mantendo também sua primeira fase;

4 – o candidato teve de pagar, além da inscrição para o ENEM, taxas de inscrição para as outras provas que compõem os processos seletivos citados no item 3;

5 – o novo ENEM é composto por 180 questões de múltipla escolha, mais uma redação, a serem completados em 10 horas de prova, modelo que, ao invés de privilegiar o conhecimento, dá mais importância à resistência física do candidato;

6 – questões da prova vazaram dois dias antes de sua aplicação, quebrando a confidencialidade e, juntamente com esta, a credibilidade do processo e também da instituição que o idealizou.

Devido ao derradeiro imbróglio com o sigilo das questões, o MEC anunciou, em 01/10/2009, o adiamento da prova por pelo menos 45 dias, o que certamente prejudicará o calendário das universidades que dependem dela para a seleção de candidatos. O resultado é uma grande interrogação pairando sobre a cabeça dos 4,1 milhões de estudantes inscritos, que já não sabem quando e como serão realizadas as etapas mais importantes da atual fase de suas vidas.

A estratégia do governo, de conquistar jovens eleitores que, teoricamente, teriam seu ingresso em instituições de ensino superior feito de forma mais justa, parece ter saído pela culatra. A Gillette pode até ter sucesso em conquistar jovens clientes. Já o governo, cuja intenção era fazer barba, cabelo e bigode com uma fatia significativa de jovens eleitores, termina por cravar uma lâmina na própria garganta.

É o Brasil.