segunda-feira, março 24

Back 2 net

Após um não-tão-breve-quanto-eu-gostaria período de exclusão digital, volto com força total. Mais honesto e sincero, devido ao mais extenso tempo livre dedicado a divagações, confesso que esse texto já estava pronto antes mesmo do técnico comparecer ao meu recinto para o restabelecimento do sinal. Claro, minha inspiração não vem de fatos, mas de doses. E quem garantiria que ao retorno da internet estaria eu sob efeito alcoólico? Não custa prevenir.

Foi bonito. Tive mais tempo para ler, dormir, comer e beber. É impressionante o tempo que a checagem de e-mails, scraps e o download do último álbum do Hot Chip nos toma. O que será que as pessoas faziam na remota década de 90, quando ainda não existia a worldwide web? Minha avó paterna plantava morangos, a materna fazia palavras cruzadas da Coquetel. Meu pai tinha um caso com a secretária (resultado: tenho um irmão 3 meses mais velho que eu), minha mãe fumava 2 maços de Free longo por dia (não que isso tenha diminuído quando instalaram a internet lá em casa. Piorou), e eu... o que eu fazia?

Lembro que tinha 14 anos. “Nossa, é muito melhor que as BBS!” Você, caro leitor, mimado por googles e orkuts, não deve saber o que é uma BBS. Não que eu seja velho, apenas tecnologicamente iniciado um pouco antes do resto de meus convivas. Montei até um site. Fazia gifs animados usando o Paint Brush a bordo do meu 486 DX2 66, ficava impressionado quando o Netscape conseguia carregar uma foto, acessava o mIRC sob o codinome Morrisson (sim, com dois S, pseudo-fã do The Doors, não sabia nem a grafia correta do nome do Jim, coitado), passava tardes e noites no ICQ e dormia nas aulas pela manhã.

A internet roubou parte da minha transição infância-adolescência. Parei de soltar pipa e jogar bola. Engordei (adoro arrumar desculpas pra minha fome fora do comum). Felizmente, hoje sou um homem mudado. Já não dependo do número de scraps ou e-mails para saber que sou querido e popular.

Bem, depois eu continuo esse texto. Vou abrir minha caixa de e-mails.