O que você faz num fim de tarde de sexta-feira, quando sai do trabalho? Toma uma gelada num boteco? Pega um cineminha? Vai ao shopping?
Hoje eu ouvi jazz. Tá. E daí? Bom, eu ouvi jazz em baixo do Obelisco dos Heróis de 32. Hã? Sim. Em baixo.
Sexta-feira, 19h05. Você fica feliz porque acabou o trampo. Mas fica triste porque vai ter que enfrentar algo talvez mais estressante do que o trabalho: o trânsito de São Paulo. Com um agravante: é sexta-feira. Mais um: está chovendo.
Entro no túnel Ayrton Senna. Dá vontade de abrir a janela e perguntar pro motorista ao lado onde é o enterro. Parece mais cortejo aquela fila de carros vagarosamente se arrastando um atrás do outro. E vejam só o disparate que a CET ainda tem a coragem de fazer: as placas dizem que a velocidade permitida é de 70km/h. Como se alguém conseguisse passar dos 20! Daqui a um tempo ao invés de velocidade permitida, as placas indicarão a velocidade possível. Mas, antes o ritual fúnebre ao que ocorre depois: tudo pára. Olho para cima, e vejo a placa indicando o que está sobre mim, no parque Ibirapuera. Obelisco dos Heróis de 32. Ok, mas para que saber o que tem ali, se eu não posso ver? Faz tanto sentido quanto aquelas perguntas do tipo “por que o Pato Donald sai do banho enrolado na toalha, se ele não usa calças”? Agravante número 3: dentro do túnel não pega rádio. 4: nem celular. Abro o porta-luvas, e lá está a salvação. Um CD do Herbie Hancock. Só assim para me acalmar um pouco. E fiquei ali, no conforto do meu carro popular sem ar-condicionado, ouvindo um jazz de qualidade. Só faltou um Jack Daniels e um charuto pra deixar minha sexta-feira perfeita.
Moral da história: sempre tenha um CD de jazz dentro do carro nas sextas-feiras chuvosas de São Paulo. Ah, de preferência com mais de 7 músicas. Minha alegria durou pouco.
Como diria uma canção do LCD Soundsystem, adaptando só o nome da cidade: “São Paulo I love you, but you’re bringing me down”.